sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

JUSTÍSSIMO...

Apesar da coincidência com o anúncio de que «BCE confima que vai usar a "bazuca" monetária» a que se seguiram reacções onde o «Presidente do banco central alemão critica programa do BCE» ou onde a Directora-geral do FMI assegura que «Operação anunciada pelo BCE não é suficiente», a reunião anual do Fórum Económico Mundial (o areópago que anualmente reúne em Davos os mais ricos) lá tem prosseguido com o desfilar dos habituais participantes e das vedetas convidadas. Dizem alguns comentadores bem-intencionados (ou simplesmente ingénuos) que os ricos estão preocupados com o combate à desigualdade, enquanto outros garantem que «Em Davos olha-se para 2015 como "um ano de encruzilhada"».

Seguramente mais consensual é a afirmação que «Davos arranca com CEO menos optimistas que em 2014», como se a conjuntura global fosse tudo menos volátil. Sinal evidente desta preocupação é o facto dum recente inquérito da PricewaterhouseCoopers, a mais de um milhar de CEO’s, revelar que 78% destes escolheram o “excesso de regulação” como a sua principal preocupação, no que pode ser entendido como uma clara percepção dos “riscos” associados ao facto de integrarem o grupo dos 1% mais ricos, precisamente quando a OXFAM anuncia que veremos em 2016 «Metade da riqueza mundial nas mãos de 1 por cento da população».


Claro que a previsão nada tem de surpreendente numa época em que a velocidade de concentração da riqueza foi especialmente acelerada nos países mais desenvolvidos graças ao hábil artifício de ampliar uma crise financeira até a transformar num processo de clara espoliação de quem trabalha em proveito dos detentores de capital.

Este processo de concentração da riqueza, iniciado em meados do século passado, na América Latina, a coberto das teorias monetaristas de Milton Friedman e da escola de Chicago, levado a cabo sob o pretexto da necessidade do reequilíbrio financeiro dos estados mais não constitui que o passo mais recente para o estabelecimento duma “economia do caos” que os organismos internacionais se recusam a admitir mesmo quando os próprios vêem revendo sucessivamente em baixa as perspectivas de evolução da economia mundial. Isso mesmo se confirma quando no seu último “Outlook” o «FMI corta previsões para economia mundial e espera crescimento de 3,5% este ano» e, aquele que, a par com o Banco Mundial, tem sido um dos principais agentes daquela formulação, insiste quando a «Directora-geral do FMI deixa aviso à Grécia» sobre as consequências de reestruturar a sua dívida, como se não existisse alternativa à condenação dos povos à miséria colectiva.

Evidentemente que os super-ricos encontram neste modelo de distribuição da riqueza a justiça própria dum processo equitativo (haverá algo mais equilibrado e democrático que distribuir metade para eles e metade para os outros?), do mesmo modo que os “banksters” continuam a recusar-se a reconhecer que o modelo suicida da alavancagem financeira que praticam mais não é que um criminoso “esquema de Ponzi” que, esperam, continue a ser financiado pelo erário público.

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