Apesar
da coincidência com o anúncio de que «BCE
confima que vai usar a "bazuca" monetária» a que se seguiram
reacções onde o «Presidente
do banco central alemão critica programa do BCE» ou onde a Directora-geral do FMI assegura que «Operação
anunciada pelo BCE não é suficiente», a reunião anual
do Fórum Económico Mundial (o areópago que anualmente reúne em Davos os mais
ricos) lá tem prosseguido com o desfilar dos habituais participantes e das
vedetas convidadas. Dizem alguns comentadores bem-intencionados (ou
simplesmente ingénuos) que os ricos estão preocupados com
o combate à desigualdade, enquanto outros garantem que «Em
Davos olha-se para 2015 como "um ano de encruzilhada"».
Seguramente
mais consensual é a afirmação que «Davos
arranca com CEO menos optimistas que em 2014»,
como se a conjuntura global fosse tudo menos volátil. Sinal evidente desta
preocupação é o facto dum recente inquérito da PricewaterhouseCoopers, a mais de um milhar de CEO’s, revelar que
78% destes escolheram o “excesso de regulação” como a sua principal preocupação,
no que pode ser entendido como uma clara percepção dos “riscos” associados ao
facto de integrarem o grupo dos 1% mais ricos, precisamente quando a OXFAM anuncia que veremos em 2016 «Metade
da riqueza mundial nas mãos de 1 por cento da população».
Claro que a
previsão nada tem de surpreendente numa época em que a velocidade de
concentração da riqueza foi especialmente acelerada nos países mais
desenvolvidos graças ao hábil artifício de ampliar uma crise financeira até a
transformar num processo de clara espoliação de quem trabalha em proveito dos
detentores de capital.
Este processo
de concentração da riqueza, iniciado em meados do século passado, na América
Latina, a coberto das teorias monetaristas de Milton Friedman e da escola de
Chicago, levado a cabo sob o pretexto da necessidade do reequilíbrio financeiro
dos estados mais não constitui que o passo mais recente para o estabelecimento
duma “economia do caos” que os organismos internacionais se recusam a admitir
mesmo quando os próprios vêem revendo sucessivamente em baixa as perspectivas
de evolução da economia mundial. Isso mesmo se confirma quando no seu último “Outlook”
o «FMI
corta previsões para economia mundial e espera crescimento de 3,5% este ano»
e, aquele que, a par com o Banco Mundial,
tem sido um dos principais agentes daquela
formulação, insiste quando a «Directora-geral
do FMI deixa aviso à Grécia» sobre as consequências de reestruturar a sua
dívida, como se não existisse alternativa à condenação dos povos à miséria
colectiva.
Evidentemente
que os super-ricos encontram neste modelo de distribuição da riqueza a justiça
própria dum processo equitativo (haverá algo mais equilibrado e democrático que
distribuir metade para eles e metade para os outros?), do mesmo modo que os “banksters” continuam a recusar-se a
reconhecer que o modelo suicida da alavancagem financeira que praticam mais não
é que um criminoso “esquema de Ponzi” que, esperam, continue a ser financiado
pelo erário público.
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