quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

PENSEM SÓ…

No dia em que foi revelado que a «ONU aceita pedido de adesão palestiniana ao Tribunal Penal Internacional» e quando a comunidade internacional deveria estar a assinalar este passo no sentido duma progressiva aproximação em pé de igualdade entre israelitas e palestinianos, eis que a notícia do ataque à redacção do CHARLIE HEBDO tudo fez esquecer.

Demasiado ocupadas com a profissionalíssima actuação dos irmãos Kouachi, as redacções remeteram para o limbo da memória a já costumeira reacção de Tel-Aviv, anunciando que «Israel congela transferência de impostos para palestinianos por causa de pedido de adesão ao TPI», e sem maiores comentários uma afirmação do ainda primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, segundo a qual «Israel não permitirá que os seus soldados sejam julgados no Tribunal Penal Internacional».

Com todas as atenções centradas nas peripécias para a captura dos foragidos, poucos considerandos ou nenhumas observações sobre contradições grosseiras dos factos noticiados (o já referido profissionalismo na execução do ataque e o óbvio amadorismo do esquecimento dum documento de identificação numa das viaturas usadas numa fuga para o Norte e durante o cerco no regresso aos arredores de Paris) foram sendo conhecidos pelo que não se estranhará que também aquele gravíssimo desrespeito à comunidade internacional tenha passado em claro.

Quando o tempo tem vindo a desmentir a viabilidade do modelo “dois povos-dois estados” e quando surge uma ou outra iniciativa para o desbloqueio do impasse, nomeadamente quando entre os dois povos até se debate a hipótese antevendo que «Estado único surge como solução ao conflito Palestina-Israel», seria expectável alguma evolução na postura oficial de Israel. Não fossem os actores sempre os mesmos e mínimas as diferenças entre conservadores e moderados e talvez às alterações no poder em Tel-Aviv pudesse corresponder alguma evolução no rumo das negociações israelo-palestinianas.


Ao invés parece que as principais forças políticas israelitas redobram de esforços na radicalização das suas posições no que à questão palestiniana respeita, arrastando no tempo, com o beneplácito de americanos e europeus, uma solução de confronto que cada vez menos promete vir a ser justa e equitativa.

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