Não foi por
acaso que escrevi no “post” «PRESENTE
ESCONDIDO» que «2015 pode bem vir a
ser o ano de todos os perigos...», pois além duma conjuntura mundial pouco
estável junta-se o facto da Europa registar ao longo do ano processos
eleitorais em 10 dos seus 28 estados-membros, com a agravante de nalguns deles
se prefigurarem cenários de clara mudança política ou, no mínimo, de grande
alteração no seu xadrez político.
É claro que o
caso mais falado no momento é o da Grécia (especialmente abordado no “post” «2015») ou não
estivesse claramente em causa a hipótese de continuidade do modelo político-económico
que tanto tem favorecido o sector financeiro; mas a par deste também a Croácia,
a Dinamarca, a Espanha, a Estónia, a Finlândia, a Polónia, a Suécia, o Reino
Unido e Portugal conhecerão eleições legislativas ao longo do ano enquanto a
França terá eleições locais.
A importância
do calendário eleitoral europeu resulta principalmente duma reconhecida deriva
xenófoba e isolacionista, resultante da clara incapacidade das elites políticas
para lidarem com o processo de construção europeu a par com a desagregação das
suas próprias sociedades. Com o modelo da globalização a aproximar-se
perigosamente do esgotamento, com as economias domésticas dilaceradas pelas
políticas de deslocalização e de desregulamentação, espartilhadas entre a quase
total ausência de crescimento económico e um desemprego persistente,
antevêem-se sérias probabilidades de mudança nos panoramas políticos nacionais,
a principal das quais poderá ocorrer já este mês na Grécia.
Numa época em
que é visível o descrédito e a rejeição do sistema partidário e voltam a
despertar partidos radicais, regista-se também o aparecimento de movimentos
mais ou menos inorgânicos que estão a atrair os cidadãos para o debate
político. Se no caso do Reino Unido, da Finlândia e da Suécia (a par com a
França) se assiste à emergência de partidos nacionalistas e anti-europeus, já
no caso espanhol a grande novidade (e incógnita) será um movimento como o
Podemos que, conjuntamente com os gregos do Syriza, defende abertamente uma
abordagem para a questão da dívida pública em oposição à solução ordoliberal da
“austeridade-expansionista”.
Um bom
resultado dos independentistas britânicos do UKIP ou da Frente Nacional
francesa constituirá um severo revés para a ideia da União Europeia, mesmo
considerando que o “diktat” ordoliberal
a vem enfraquecendo substancialmente, o mesmo podendo acontecer em caso de
reforço dos populistas suecos do SD (Democratas Suecos), já em Março. Esta
situação parecia impensável há um par de anos, mas o xadrez europeu evoluiu num
sentido de extrema volatilidade a ponto de na própria Suécia (país
tradicionalmente conotado com um clima de estabilidade política e de grande
abertura ao acolhimento de refugiados) se antever agora uma significativa
mudança nesse capítulo.
Numa Europa
onde o ideal da cooperação tem vindo a ser abandonado e os cidadãos vêm
preteridos os valores da coesão social parecem criadas todas as condições para
transformar este ciclo eleitoral em algo mais que a habitual alternância
política instituída pelos partidos tradicionais. Se tal se traduzirá, ou não,
em melhoria das suas condições de vida só o tempo o dirá.
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