quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

EURO-TENSÕES

Não foi por acaso que escrevi no “post” «PRESENTE ESCONDIDO» que «2015 pode bem vir a ser o ano de todos os perigos...», pois além duma conjuntura mundial pouco estável junta-se o facto da Europa registar ao longo do ano processos eleitorais em 10 dos seus 28 estados-membros, com a agravante de nalguns deles se prefigurarem cenários de clara mudança política ou, no mínimo, de grande alteração no seu xadrez político.


É claro que o caso mais falado no momento é o da Grécia (especialmente abordado no “post” «2015») ou não estivesse claramente em causa a hipótese de continuidade do modelo político-económico que tanto tem favorecido o sector financeiro; mas a par deste também a Croácia, a Dinamarca, a Espanha, a Estónia, a Finlândia, a Polónia, a Suécia, o Reino Unido e Portugal conhecerão eleições legislativas ao longo do ano enquanto a França terá eleições locais.

A importância do calendário eleitoral europeu resulta principalmente duma reconhecida deriva xenófoba e isolacionista, resultante da clara incapacidade das elites políticas para lidarem com o processo de construção europeu a par com a desagregação das suas próprias sociedades. Com o modelo da globalização a aproximar-se perigosamente do esgotamento, com as economias domésticas dilaceradas pelas políticas de deslocalização e de desregulamentação, espartilhadas entre a quase total ausência de crescimento económico e um desemprego persistente, antevêem-se sérias probabilidades de mudança nos panoramas políticos nacionais, a principal das quais poderá ocorrer já este mês na Grécia.

Numa época em que é visível o descrédito e a rejeição do sistema partidário e voltam a despertar partidos radicais, regista-se também o aparecimento de movimentos mais ou menos inorgânicos que estão a atrair os cidadãos para o debate político. Se no caso do Reino Unido, da Finlândia e da Suécia (a par com a França) se assiste à emergência de partidos nacionalistas e anti-europeus, já no caso espanhol a grande novidade (e incógnita) será um movimento como o Podemos que, conjuntamente com os gregos do Syriza, defende abertamente uma abordagem para a questão da dívida pública em oposição à solução ordoliberal da “austeridade-expansionista”.

Um bom resultado dos independentistas britânicos do UKIP ou da Frente Nacional francesa constituirá um severo revés para a ideia da União Europeia, mesmo considerando que o “diktat” ordoliberal a vem enfraquecendo substancialmente, o mesmo podendo acontecer em caso de reforço dos populistas suecos do SD (Democratas Suecos), já em Março. Esta situação parecia impensável há um par de anos, mas o xadrez europeu evoluiu num sentido de extrema volatilidade a ponto de na própria Suécia (país tradicionalmente conotado com um clima de estabilidade política e de grande abertura ao acolhimento de refugiados) se antever agora uma significativa mudança nesse capítulo.

Numa Europa onde o ideal da cooperação tem vindo a ser abandonado e os cidadãos vêm preteridos os valores da coesão social parecem criadas todas as condições para transformar este ciclo eleitoral em algo mais que a habitual alternância política instituída pelos partidos tradicionais. Se tal se traduzirá, ou não, em melhoria das suas condições de vida só o tempo o dirá.

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