sábado, 3 de janeiro de 2015

PRESENTE ESCONDIDO

A crer em analistas e observadores bem mais abalizados que os políticos que nos têm governado, 2015 pode bem vir a ser o ano de todos os perigos...

A crise financeira despoletada em 2008 continua por resolver e o clima de aparente normalidade esconde mal o vulcão que permanece activo e a acumular razões para voltar a explodir. À sucessão de eventos recentes (como o reacender do conflito no Médio Oriente ou a crise ucraniana e os seus reflexos sobre o preço do petróleo), à insistência na conclusão/aprovação do TTIP (Transatlantic Trade and Investmente Partnership), juntou-se no final do ano passado a aparente novidade de ver, como disse o EXPRESSO, «O mesmo desejo de fim de ano: BCE e FMI querem mais estímulos monetários em 2015».

Desiluda-se porém, quem queira ver nesta concordância qualquer sinal de melhoria para a situação mundial. Tal como há umas semanas o Congresso norte-americano voltou a defraudar as expectativas dos que desde 2008 se batem pelo regresso a uma regulamentação mais restritiva sobre o sistema financeiro, dando assim mais um “presente” a Wall Street...


... pois bastará ler o artigo que a Directora-geral do FMI, Christine Lagarde, fez publicar no jornal italiano IL SOLE 24 ORE para melhor entender a verdadeira finalidade dos estímulos monetários.

É verdade que naquele artigo a Srª Lagarde defende a necessidade de «...de melhores leis para as para-bancárias, controle mais rígido do sistema bancário sombra e maior protecção e transparência nos mercados de derivativos, é preciso um maior esforço para resolver a falta de dados sobre o sector financeiro, de modo que os reguladores possam avaliar adequadamente os riscos para a estabilidade financeira», mas de imediato abandona o que poderia ser interpretado como uma posição de maior dureza para dizer que «...acima de tudo, deve haver uma alteração na cultura do sector financeiro. A principal função da finança é oferecer serviços aos parceiros económicos, o que é impossível se não houver confiança daqueles que dependem desses serviços, ou de todos nós».

Em resumo, apesar de iniciar a sua análise dizendo que actualmente os «...governos, parlamentos e os bancos centrais enfrentam três opções: lutar para o crescimento ou resignar-se à estagnação, melhorar a estabilidade ou o risco de sucumbir à fragilidade, agindo em conjunto ou isoladamente», a Srª Lagarde afirma mais adiante que «[p]ara dar um novo impulso, além de reformas estruturais, será preciso recorrer a todas as alavancas possíveis para apoiar a procura global»; ora como bem sabem os “banksters” de Wall Street e do resto do Mundo, preconizar a alavancagem é assegurar a sua continuidade e a das práticas que levaram a economia mundial à situação em que se encontra.

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