Na semana
passada os noticiários foram abalados pela notícia dum acidente numa mina de
carvão turca.
Com a normal subida em flecha do
número de sinistrados (chegaram a ler-se notícias de que «Número
de mortos em mina na Turquia pode chegar aos 302») sucederam-se as críticas à
empresa operadora do complexo mineiro e ao governo do primeiro-ministro, Recep
Tayyip Erdogan, acusado de bloquear tentativas para o fortalecimento das regras
de segurança no sector mineiro num país que continua sem aplicar as normas de
segurança da Organização Internacional do Trabalho.
Se à
inobservância de normas de segurança se juntar o facto da mina de Soma ter sido
uma das recentemente privatizadas (operação enquadrada na senda do moderno
pensamento económico invariavelmente efectuada em benefício de entidades
próximas do poder político) e dos novos donos terem anunciado uma redução de
mais de 75% nos custos de produção, fácil se torna concluir como tal façanha
foi alcançada ao mesmo tempo que explica a reacção popular assinalada com uma «Greve
geral na Turquia e milhares nas ruas contra "negligência" do Governo».
A fatalidade
que Erdogam procurou desvalorizar numa primeira fase – quando a apresentou como
indissociável da actividade mineira, para posteriormente e em resposta à
reacção popular fazer saber que o «Primeiro-ministro
da Turquia lamenta a morte de 238 mineiros e promete justiça» –,
ameaça agora, nas vésperas do aniversário dos acontecimentos da Praça Taksin e
na sequência de processos judiciais que pontificaram na notícia que «Juiz
turco abre investigação a gravações de Erdogan» que levaram à demissão de vários membros do seu gabinete e a que só
conseguiu pôr cobro quando ordenou uma «Purga na polícia turca em resposta a investigações
de corrupção», reacender a contestação nas ruas e a repetição da
manifestação dum certo tipo de ornitofobia (como a que há um ano levou à
proibição do Twitter em território turco), que nem a prisão dalguns
responsáveis da mina nem o recente anúncio de que o «governo promete “plano de acção” após tragédia
mineira» deverá suster.
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