terça-feira, 20 de maio de 2014

ORNITOFOBIA

Na semana passada os noticiários foram abalados pela notícia dum acidente numa mina de carvão turca.

Com a normal subida em flecha do número de sinistrados (chegaram a ler-se notícias de que «Número de mortos em mina na Turquia pode chegar aos 302») sucederam-se as críticas à empresa operadora do complexo mineiro e ao governo do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, acusado de bloquear tentativas para o fortalecimento das regras de segurança no sector mineiro num país que continua sem aplicar as normas de segurança da Organização Internacional do Trabalho.


Se à inobservância de normas de segurança se juntar o facto da mina de Soma ter sido uma das recentemente privatizadas (operação enquadrada na senda do moderno pensamento económico invariavelmente efectuada em benefício de entidades próximas do poder político) e dos novos donos terem anunciado uma redução de mais de 75% nos custos de produção, fácil se torna concluir como tal façanha foi alcançada ao mesmo tempo que explica a reacção popular assinalada com uma «Greve geral na Turquia e milhares nas ruas contra "negligência" do Governo».

A fatalidade que Erdogam procurou desvalorizar numa primeira fase – quando a apresentou como indissociável da actividade mineira, para posteriormente e em resposta à reacção popular fazer saber que o «Primeiro-ministro da Turquia lamenta a morte de 238 mineiros e promete justiça» , ameaça agora, nas vésperas do aniversário dos acontecimentos da Praça Taksin e na sequência de processos judiciais que pontificaram na notícia que «Juiz turco abre investigação a gravações de Erdogan» que levaram à demissão de vários membros do seu gabinete e a que só conseguiu pôr cobro quando ordenou uma «Purga na polícia turca em resposta a investigações de corrupção», reacender a contestação nas ruas e a repetição da manifestação dum certo tipo de ornitofobia (como a que há um ano levou à proibição do Twitter em território turco), que nem a prisão dalguns responsáveis da mina nem o recente anúncio de que o «governo promete “plano de acção” após tragédia mineira» deverá suster.

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