Quase a terminar
mais uma campanha eleitoral fácil se tornaria recuperar a ideia que novamente
os principais partidos e os seus candidatos voltaram a passar ao lado do
essencial na sua função – debater ideias e divulgar intenções de actuação.
A olhar apenas
para a actual conjuntura europeia e nacional seria de admitir que nunca tal terá
sido tão fácil, tantos são os problemas e tão díspares as opções possíveis para
os enfrentar que enorme seria o esforço dos candidatos populares e socialistas
para lhes escapar senão fosse o cansado recurso ao agitar de fantasmas e à
troca de piropos mais ou menos ofensivos. Esforço que, diga-se, é indispensável
para tentar disfarçar a sua quase nula relevância no panorama europeu e o facto
de, quer nos objectivos quer nas estratégias, quase nada os separar.
Desta
lamacenta realidade ter-se-ão distinguido os candidatos dos chamados partidos
pequenos (os que nunca tiveram qualquer influência na condução das políticas
internas), mas disso a comunicação social não deu destaque, preferindo alinhar
na mesma onda de facilitismo e populismo que deverão ser apontadas como
principais responsáveis por uma abstenção que não pára de crescer (nem pode
quando é cada vez mais evidente a divergência entre os nove milhões e meio de
eleitores registados e uma população de dez milhões e meio que nos últimos anos
viu emigrar cerca de meio milhão e deve contar com mais dois milhões de jovens
sem idade para votar), pois têm-se demitido da sua função e nada têm feito no
sentido de contrariar a estratégia desinformativa dos grandes partidos, mesmo
quando apelam ao voto enunciando «Cinco
razões pelas quais as eleições europeias importam», pois isto só é
manifestamente insuficiente para mobilizar um eleitorado que se sente
marginalizado – a regra passou a ser a de eleger representantes com base em
promessas que nunca pensaram cumprir – e, sobretudo, completamente abandonado à
sua sorte.
O desencantamento e uma clara sensação de manipulação poderá
nestas eleições converter-se ainda num resultado muito mais perigoso que o da
abstenção, caso se confirmem as previsões de vitórias nacionais dos partidos de
extrema-direita em França, com a Frente Nacional da Marine Le Pen, e na
Inglaterra, onde as sondagens indicam que o «UKIP, o partido que começou como uma piada, pode ficar
em primeiro», traduzido numa forte probabilidade de agravar a
inoperância do Parlamento Europeu precisamente quando este está a ver os seus
poderes aumentados.
Além duma cobertura jornalística facilitista e
sensacionalista, de que é claro exemplo o destaque dado à “boutade” em que «Portas apela ao direito à indignação contra Sócrates»,
a imprensa tem-se esquecido sistematicamente de explicar que os deputados
nacionais (propostos e eleitos pelos diferentes partidos) irão integrar, no
quadro parlamentar europeu, outros grupos parlamentares, nem sempre
coincidentes com a sua distribuição nacional. Assim, por exemplo o PSD e o CDS
integram o PPE (Partido Popular Europeu), o PCP e o Bloco integram o GUE/NGL
(Gauche Unitaire Européenne/Nordic Green Left), enquanto o PS surge na S&D
(Aliança dos Socialistas e Democratas Progressistas).
Esta particularidade, que se repete noutros estados –membros,
leva a que a mais recente projecção efectuada pelo Parlamento Europeu e pela
TNS Opinion (que
pode ser consultada aqui) aponte para os seguintes resultados:
nada
que pareça preocupar os líderes do centrão nacional (tanto mais que quando a
última «Sondagem dá
ligeira vantagem ao PS» partem com a garantia de que nada de
substancial mudará) e a crer no I a
chanceler «Merkel
já decidiu a próxima Comissão Europeia, antes das eleições», anúncio que
deve merecer resposta adequada no próximo Domingo, data em que se deverá
proceder à escolha (ainda que por via indirecta) do próximo presidente da
Comissão Europeia e onde os eleitores poderão ainda afirmar a sua opinião sobre
a opção pela política de austeridade vigente.
Como em ocasiões
anteriores, nada tem sido ensaiado para que os actos eleitorais recuperem a dignidade
perdida, em especial quando os principais candidatos – e os que têm quase
exclusiva atenção dos meios de informação -, falhos de ideias próprias (ou
impedidos das exprimir pelas máquinas partidárias a que se sujeitam) se limitam a trocar farpas
anódinas em lugar de apresentarem uma campanha eleitoral assente no debate de
ideias e na difusão de informação potenciadora que do acto de votar resultasse
uma opção de escolha consciente e livre; mas a atestar pelo triste desempenho das
máquinas partidárias e dos candidatos dos partidos que têm partilhado o poder
em Portugal, pelo paupérrimo trabalho de informação e esclarecimento da
imprensa e pelo manobrismo que raia o criminoso dos políticos no poder por essa
Europa fora, receio bem que os cidadãos europeus deixem escapar novamente esta
oportunidade para entregar a sua representação a quem realmente represente os
seus anseios.
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