No passado
Domingo votou-se um pouco por toda a Europa para a eleição de deputados ao
Parlamento Europeu; a quota portuguesa de 21 parlamentares acabou quase
irmãmente distribuída entre os grupos nacionais do costume (PS, PSD e CDS), com
o PS a reivindicar uma vitória que, reflectida, deveria exigir grandes mudanças
perfeitamente justificadas quando «PS vence por
cerca de quatro pontos, abstenção atinge recorde».
Pese embora a
escassa diferença, nem por isso a coligação PSD/CDS deixou de ver esfumarem-se
mais de meio milhão de votos relativamente às Europeias anteriores (2009) e um
milhão e novecentos mil votos relativamente às últimas legislativas (2011); se
é verdade que todos os partidos com assento parlamentar perderam votos, os da
coligação PSD/CDS foram quase o triplo dos restantes (PS, PCP e BE perderam no
conjunto cerca de 700 mil votos) facto que torna quase incompreensível a
afirmação de que o «Governo tem
condições para vencer legislativas».
A aparente
calma nos partidos da coligação não está a ser seguida para os lados do Largo
do Rato, pois a escassa margem de vantagem alcançada pelo principal partido da
oposição a um Governo generalizadamente criticado levou mesmo a uma reacção
interna onde «António Costa
diz que vitória do PS "soube a pouco"» ou o histórico Mário «Soares
critica Seguro após "vitória de Pirro" do PS», com o EXPRESSO a assegurar «António
Costa "naturalmente disponível" para liderar o PS» enquanto a «Coligação tenta aproveitar crise socialista»
e «PSD e CDS fazem figas por Seguro».
Mas a figura
desta votação, mantendo a tendência dos últimos vinte anos, voltou a ser a
abstenção, que chegou acima dos 66% e atingiu novo recorde; nunca fomos tão
poucos a votar, pois entre os países europeus «Portugal é o
oitavo estado-membro com mais abstenção» apenas
ultrapassado por sete estados da Europa de Leste.
Mesmo
descontando o facto da evidente distorção nos cadernos eleitorais – com uma
população em evidente recuo devido ao aumento da emigração e atendendo ao facto
do último senso (2011) ter determinado que para uma população total da ordem
dos 10,5 milhões existirem mais de 1,5 milhões de jovens até aos 14 anos, é óbvio
que não podem existir mais de 9,6 milhões de eleitores – mantém-se como facto
irrefutável o crescimento da abstenção, que depois de ter aumentado 13,3% nas
últimas eleições europeias (2009) volta agora a crescer mais 4,5%. Outra forma
de olhar para o fenómeno é através da evolução do número de votantes
(qualitativamente preferível por afastar a subjectividade do total de
eleitores), verificando-se que entre europeias o decréscimo foi da ordem dos
300 mil eleitores e desde as últimas legislativas (2011) a quebra foi superior
a 2,5 milhões.
Ao preocupante
fenómeno da abstenção temos ainda que juntar o fenómeno ocasional de mais 230
mil eleitores terem votado num partido (o MPT) quase desconhecido. A
decuplicação da votação neste pequeno partido, definido como ambientalista e
ruralista e que teve Gonçalo Ribeiro Teles como fundador, dever-se-á
principalmente ao cabeça de lista proposto, o conhecido e polémico
ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, pois poucos dos que nele
votaram serão conhecedores do seu programa.
Este fenómeno,
em tudo comparável com anteriores ocorrências, como a do meteórico PRD (o
partido com que Ramalho Eanes pretendeu esvaziar PS e PSD) ou a do polémico
Fernando Nobre (o fundador da AMI que, depois de ter ensaiado uma candidatura
presidencial independente, aceitou integrar uma lista do PSD para o Parlamento
e acabou rejeitando o mandato de deputado na sequência do clamoroso fracasso na
sua eleição para a presidência da Assembleia), deverá conhecer destino idêntico
num futuro próximo e abandonará a cena política sem nada acrescentar de
verdadeiramente novo.
Ausência de
novidades ou soluções é precisamente a principal imagem que ressalta de mais
este acto eleitoral, cujos verdadeiros efeitos em Bruxelas serão objecto de análise
futura.
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