Lembrando o
recente óbito do escritor Gabriel Garcia Marquez bem se poderia adaptar o
título da sua excelente “Crónica duma morte anunciada” para abordar o último
discurso de Passos Coelho.
Respaldado,
com pompa e circunstância, por todo o seu gabinete, Passos Coelho anunciou com
júbilo o que há muito era por todos sabido: o país iria dispensar qualquer
outro pacote de ajuda financeira!
Ora se decisão
acabara de ser tomada pelo Conselho de Ministros, como é que o comum dos
mortais poderia conhecer por antecipação os desígnios dos deuses? Simples, a
Alemanha e a Finlândia já tinham deixado saber que não seria do seu agrado a
opção por qualquer programa cautelar (para utilizar a designação popularizada
pela imprensa) principalmente em vésperas dumas eleições europeias que prometem
surpresas.
Vir perante as
câmaras das televisões invocar o interesse nacional para justificar o que
outros decidiram, não se reveste apenas de hipocrisia nem de cinismo (como
se afirma nesta notícia do CM) antes expressa a total subserviência da
actual equipa governativa a interesses espúrios.
A opção pela
chamada “saída limpa” não foi apenas decidida segundo os interesses doutras
capitais europeias, como constitui mais uma prova da total ausência de
solidariedade entre os estados membros da UE, tanto mais que, como escreveu
José Manuel Pureza em «Leiam
os meus lábios», «[n]ão é por não precisarmos de
almofada contra as turbulências do mercado que não teremos programa cautelar, é
porque os ricos desta Europa sabem que o mínimo tremelique dos mercados é um
tremor de terra para uma economia com uma dívida que em vez de diminuir cresceu
e por isso não estão para arcar com o risco de nos servirem de avalistas», nem deve ser apresentada como
medida do sucesso da política de consolidação orçamental, quando, segundo
esta notícia do ECONÓMICO, a própria UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) assegura que «...o grau de execução dos
diferentes programas orçamentais no ano passado foi “relativamente
assimétrico”. Destaca-se o Programa da Saúde com uma execução acima do previsto
na dotação inicial (105,4%), bem como o programa da Solidariedade, Emprego e
Segurança Social (104,5%)».
…continuarão a
ser as populações a suportar os custos e os sacrifícios.
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