A semana que
terminou registou o regresso da questão palestiniana às primeiras páginas dos
jornais, não devido a qualquer extraordinário desenvolvimento no processo de
negociação israelo-palestiniano mas porque o «Hamas
e Fatah anunciam governo de união».
Após quase
sete anos de conflito, umas vezes aberto outras latente, que levou à formação
de governos distintos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, eis que as duas
organizações chegaram finalmente a uma plataforma de entendimento que passa
pela realização de novas eleições num prazo de seis meses.
Mas a
esperança que poderia acompanhar o que parece constituir uma boa notícia para
os palestinianos, reduzindo o clima de tensão interno que poderá até facilitar
algum acréscimo de moderação entre os militantes do Hamas, foi prontamente
reduzida a zero quando de Tel-Aviv chegou a notícia de que «Israel
suspende negociações de paz com os palestinianos», negociações que há
vários meses vivem em estado hibernação, sob a alegação que não negociarão com
uma organização que defende a destruição de Israel.
Tudo
isto a coberto do amigo americano que, fazendo coro com o regime judaico, já
fez saber que pondera reequacionar os programas de assistência aos
palestinianos, programas que, face à clara política de “apartheid” de que os palestinianos têm sido alvo, são a única fonte
de sobrevivência duma população objectiva e intencionalmente mantida em estado
de inanição económica.
Tal como
aconteceu em 2007, quando em consequência dum resultado eleitoral favorável ao
Hamas o Ocidente se pronunciou pela inaceitabilidade das eleições, eis que de
novo o tão propagandeado apego ocidental à democracia e aos direitos humanos é
esquecido em benefício de interesses manifestamente opostos ao das populações
palestinianas e até de parte da judaica que defende o fim do conflito e a
normalização da sua vida diária.
Analisado
pragmaticamente, o fracasso de mais um processo negocial não deriva da nova
realidade palestiniana mas sim da posição de intransigência israelita quanto ao
reconhecimento palestiniano do seu estado judaico, facto que até nos EUA foi
reconhecido por um conjunto de especialistas e diplomatas (ver
este artigo assinado entre outros por Zbigniew Brzezinski e Frank Carlucci) que no início do mês apelaram a uma posição mais firme
por parte do secretário de estado, John Kerry, nas negociações
israelo-palestinianas; atirar sobre a unidade palestiniana o ónus dum
desentendimento que se deve principalmente às crescentes exigências israelitas
(na opinião palestiniana) ou, mais prosaicamente, à política de “apartheid” judaica que tem inviabilizado
até a famigerada solução dos “dois-estados” e que em última instância coloca
Israel perante a escolha entre a opção de expulsar os palestinianos para a
Jordânia e o Egipto ou integrá-los num estado não racial.
Este
raciocínio foi hoje surpreendentemente validado por uma notícia onde o DN assegura
que John Kerry terá afirmado numa reunião, à porta fechada, de um centro de reflexão
norte-americano que «Israel
corre o risco de se tornar num Estado de 'apartheid'». Mesmo descontando a
medonha hipocrisia de descrever a realidade sob a capa duma hipótese, a
afirmação confirma que até já em Washington se reconhece a evidência do que em
Tel-Aviv se persiste em ignorar.
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