A polémica e o
“lufa-lufa” jurídico em torno do leilão de quase uma centena de obras do pintor
catalão Joan Miró decidido pela PARVALOREM,
entidade que gere “os restos” do famigerado BPN (banco nacionalizado em
Novembro de 2008 que, segundo algumas fontes, já terá custado aos portugueses
perto de 9 mil milhões de euros), representa apenas o episódio mais recente em
que aquelas obras de arte se têm visto envolvidas. A própria forma como estas
passaram a constituir parte do activo do BPN – em resultado do incumprimento
duma operação de crédito com o promotor do BPN em Madrid (genro do ex-primeiro
ministro espanhol José Maria Aznar) – é por si só reveladora dum modelo de
gestão extravagante, que, considerando a sua contabilização por um valor de 150
milhões de euros (esse é o valor referido no artigo «Os
quadros de Miró, o genro de Aznar, o empréstimo incobrável e as extravagâncias
de Oliveira e Costa»), parece estender-se à
administração da PARVALOREM quando pretende vendê-los por 1/5 daquele valor.
Independentemente
da polémica sobre a qualificação pela Direcção-Geral do Património Cultural e
sobre o repentino interesse da classe política – que já originou comentários
onde «PSD acusa PS de
«política baixa» a propósito da colecção Miró» ou, reacção perfeitamente natural de quem ignora quantos cantos compõem os Lusíadas, aquele onde «Cavaco vê Miró como “arma de
arremesso político”» –, permanecem por responder questões como a de saber se os «Quadros de Miró saíram ilegalmente de Portugal», situação que a confirmar-se não ilustra nem a administração da PARVALOREM
nem o Governo, tanto mais que, como escreveu o EXPRESSO, se «Obras
de Miró saíram do país por mala diplomática», afirmação que significa
um claro envolvimento do executivo, contrariando anteriores afirmações do
secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, confirmado pelas palavras do
próprio primeiro-ministro: «Caso Miró “não correu bem” mas obras vão ser
vendidas na mesma».
Outro foco
de polémica é a invocada necessidade da venda de uma colecção de arte a preço
de saldo para aliviar
o fardo do BPN sobre os contribuintes, contra a opinião de
especialistas como Luís Raposo, o presidente da direcção da comissão
nacional do Conselho Internacional de Museus (ICOM), que afirma que a «Venda de colecção Miró "é um erro de política
cultural"». Opção tanto mais estranha
quanto há pouco mais de um ano o mesmo «Estado
"limpou" BPN e injectou mais de mil milhões antes de vender ao BIC»
por uns simpáticos 40 milhões de euros.
Depois disto haverá ainda quem estranhe a notícia de que «Berardo
está interessado em comprar os "Miró"»?
[*]
Se a presidente da Assembleia da República, Conceição Esteves, pode falar em
“conseguimentos” acho que inventar uma aglutinação do nome de Joan Miró – escultor
e pintor catalão (1893-1983), figura proeminente do movimento surrealista – com
a expressão popular mirabolância, que significa ratice ou extravagância, é
perfeitamente aceitável numa língua viva como a portuguesa.
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