quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A ILUSÃO DO PROTECCIONISMO

Não será prematuro considerar que a notícia da semana teve origem numa Suíça onde um «Referendo aprova quota de emigração aos países da UE», nem o assunto deve ser encarado como um problema interno, pois além dum evidente sinal de recrudescimento xenófobo constitui ainda um sério aviso para a crescente aceitação dos partidos e movimentos de extrema-direita.


A reacção cândida de Bruxelas foi o anúncio que a «União Europeia vai avaliar laços com a Suíça depois do referendo»; simultaneamente mais clara e figurativa terá sido a comissária Viviane Reding ao afirmar que o «Mercado único não pode ter buracos como queijo suíço», enquanto no geral os comentários comunitários podem ser resumidos na expressão do ministro dos Estrangeiros luxemburguês quando lembrou que a «"Suíça não pode esperar o mesmo acesso ao mercado interno da UE"», recolocando a questão no plano económico, mas evitando a mínima alusão à grande fonte de receita helvética: o mais antigo e reputado “offshore” mundial.

Ora a Suíça coloca no mercado europeu 55% das suas exportações e dele provêem 80% das suas importações, facto que não terá pesado na votação mas irá dificultar em muito a tarefa a que agora obrigou um governo que declarando-se contra não conseguiu inverter um resultado onde, numa ilusão de proteccionismo, os «Suíços viram as costas à livre circulação e à Europa». Tal como em 2009, quando foram chamados a votar sobre a construção de minaretes (ver o “post” «SINAIS (TRISTES) DOS TEMPOS»), ou em 2010, sobre a expulsão de estrangeiros condenados pela Justiça (ver o “post” «NOVOS SINAIS (TRISTES) DOS TEMPOS»), os eleitores suíços terão reagido mais ao ancestral medo dos “estrangeiros” e aos argumentos populistas, de que os emigrantes estão a mudar o seu país e a degradar a qualidade de vida dos naturais, do que à racional análise dos prós e contras duma opção que a avaliar por alguns estudos realizados até mostram um saldo positivo da abertura da Suíça à UE, pois o desemprego manteve-se perto dos 3%, os salários crescem desde 2002 a uma média de 0,6% e a economia tem crescido acima da média europeia (estimada em 2% para 2014); até o crescimento da emigração após os acordos com a UE foi reduzido (20% em 2002 contra os actuais 23,5%).

No plano político o resultado do referendo não representa apenas mais uma acha na fogueira nacionalista que ameaça inflamar as próximas eleições europeias, não sendo pois de estranhar que a «Extrema-direita europeia festeja resultados do referendo suíço» enquanto a «Extrema-direita francesa saúda "lucidez" dos suíços no referendo» e que, aproveitando a maré, a sua dirigente Marine «Le Pen quer seguir exemplo suíço contra imigração».

A França, não sendo caso único, tem registado um crescimento contínuo do seu partido de extrema-direita. Dizer-se que «A Frente Nacional tem o apoio de 34% dos franceses mas pode ter parado de crescer» talvez traduza a realidade duma Europa que há semelhança do ocorrido nos anos da Grande Depressão parece cada vez mais disponível para abraçar ideais pouco democráticos, tal a insegurança social e económica a que tem sido forçada pelos governos que elegeu.

A situação que a UE atravessa, onde a fragilidade e a manifesta incapacidade da sua liderança se tem traduzido no fomento dos mais diversos nacionalismos, a deriva demagógica das lideranças democráticas, de que são bons exemplos a actuação francesa contra etnias como a cigana (ver o “post” «NÓS E OS OUTROS») ou o caso da proibição do uso do “hijab” islâmico em locais públicos (ver o “post«LIBERDADES»), estão a ser capitalizadas para fomentar tendências proteccionistas que, tarde ou cedo, acabarão por se virar contra os que a tudo assistem silenciosamente.

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