Não será
prematuro considerar que a notícia da semana teve origem numa Suíça onde um «Referendo
aprova quota de emigração aos países da UE», nem o
assunto deve ser encarado como um problema interno, pois além dum evidente
sinal de recrudescimento xenófobo constitui ainda um sério aviso para a
crescente aceitação dos partidos e movimentos de extrema-direita.
A reacção cândida
de Bruxelas foi o anúncio que a «União
Europeia vai avaliar laços com a Suíça depois do referendo»;
simultaneamente mais clara e figurativa terá sido a comissária Viviane Reding
ao afirmar que o «Mercado
único não pode ter buracos como queijo suíço», enquanto no geral os comentários comunitários podem ser resumidos na
expressão do ministro dos Estrangeiros luxemburguês quando lembrou que a «"Suíça
não pode esperar o mesmo acesso ao mercado interno da UE"», recolocando a questão no plano económico, mas evitando a
mínima alusão à grande fonte de receita helvética: o mais antigo e reputado “offshore” mundial.
Ora a Suíça coloca no mercado
europeu 55% das suas exportações e dele provêem 80% das suas importações, facto
que não terá pesado na votação mas irá dificultar em muito a tarefa a que agora
obrigou um governo que declarando-se contra não conseguiu inverter um resultado
onde, numa ilusão de proteccionismo, os «Suíços
viram as costas à livre circulação e à Europa». Tal
como em 2009, quando foram chamados a votar sobre a construção de minaretes
(ver o “post” «SINAIS
(TRISTES) DOS TEMPOS»), ou em 2010, sobre a expulsão de estrangeiros
condenados pela Justiça (ver o “post”
«NOVOS
SINAIS (TRISTES) DOS TEMPOS»), os
eleitores suíços terão reagido mais ao ancestral medo dos “estrangeiros” e aos
argumentos populistas, de que os
emigrantes estão a mudar o seu país e a degradar a qualidade de vida dos
naturais, do que à racional análise dos prós e
contras duma opção que a avaliar por alguns estudos realizados até mostram um saldo positivo da abertura da
Suíça à UE, pois o desemprego manteve-se perto dos 3%, os salários crescem
desde 2002 a uma média de 0,6% e a economia tem crescido acima da média
europeia (estimada em 2% para 2014); até o crescimento da emigração após os
acordos com a UE foi reduzido (20% em 2002 contra os actuais 23,5%).
No
plano político o resultado do referendo não representa apenas mais uma acha na
fogueira nacionalista que ameaça inflamar as próximas eleições europeias, não
sendo pois de estranhar que a «Extrema-direita
europeia festeja resultados do referendo suíço» enquanto a «Extrema-direita
francesa saúda "lucidez" dos suíços no referendo» e que, aproveitando a maré, a sua dirigente Marine
«Le
Pen quer seguir exemplo suíço contra imigração».
A França, não sendo
caso único, tem registado um crescimento contínuo do seu partido de
extrema-direita. Dizer-se que «A
Frente Nacional tem o apoio de 34% dos franceses mas pode ter parado de crescer»
talvez traduza a realidade duma
Europa que há semelhança do ocorrido nos anos da Grande Depressão parece cada
vez mais disponível para abraçar ideais pouco democráticos, tal a
insegurança social e económica a que tem sido forçada pelos governos que
elegeu.
A situação que
a UE atravessa, onde a fragilidade e a manifesta incapacidade da sua liderança
se tem traduzido no fomento dos mais diversos nacionalismos, a deriva
demagógica das lideranças democráticas, de que são bons exemplos a actuação francesa
contra etnias como a cigana (ver o “post”
«NÓS
E OS OUTROS») ou o caso da proibição do uso do “hijab” islâmico em locais públicos (ver o “post” «LIBERDADES»),
estão a ser capitalizadas para fomentar tendências proteccionistas que, tarde
ou cedo, acabarão por se virar contra os que a tudo assistem silenciosamente.
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