A crise
ucraniana tem monopolizado quase integralmente as atenções na Europa, relegando
para plano secundário acontecimentos como a queda e formação dum novo governo
em Itália.
Se à primeira
vista e para um país onde por tradição os governos não completam legislaturas
isto não representa nada de novo, já a constatação que foi o primeiro-ministro
Enrico «Letta
forçado a demitir-se por pressão do próprio partido» constituiu,
além de novidade, motivo para reflexão.
Recém-chegado
à liderança do Partido Democrático, o dinâmico ex-autarca de Florença, deu
afinal corpo ao sentimento geral de apatia face ao governo dum Enrico Letta que
há muito se sabia pouco fadado para um lugar a que apenas as circunstâncias e
um intrincado jogo parlamentar lhe permitiram alcançar.
Há quase um
ano dei nota no “post” «SORRISO
AMARGO» dum sentimento italiano que apontava já Matteo Renzi como
alternativa claramente vantajosa face ao reconhecidamente titubeante Letta; o
que estão estava longe de imaginar é que a queda de Letta resultasse de
movimentações do interior do seu próprio partido, mesmo que a justificação
fosse tão pragmática quanto o perigo de nova subida da votação em partidos fora
do sistema (o caso do MoVimento de Beppe Grillo ou até de grupos nacionalistas)
nas próximas eleições europeias.
A chegada à
cena política italiana dum “enfant
terrible” do calibre de Renzi pode revelar-se afinal mais perigosa que a do
cómico Beppe Grillo, pois este enquanto “outsider”
estaria mais limitado na produção de estragos irreparáveis – o populismo de
Grillo poderia disfarçar uma ambição que Renzi já personifica e, quem sabe,
limitar até o campo de manobra dos grupos mais nacionalistas – que apenas podem
facilitar a ascensão dos sectores mais conservadores e nacionalistas.
O ónus da
actuação do novo primeiro-ministro não se reduzirá apenas a que o «“Golpe
palaciano” custa popularidade a Matteo Renzi», pois não se pode esquecer
desde a primeira hora que o seu governo, depois do de Mario Monti, é já o
segundo, nos últimos três anos, que não resulta de qualquer processo eleitoral
e que isso não desgastará apenas a realidade italiana, antes todo um sistema
político europeu que parece continuar a privilegiar o beneplácito duns
incorpóreos “mercados” – claramente expresso quando na imprensa se escreve que
a «Itália
financia-se a juros mais baixos com Matteo Renzi» – em detrimento das populações em prol de cujo bem-estar é suposto
governarem.
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