segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

COLOSSAIS INSULTOS

Vítor Gaspar, o ex-ministro das Finanças, acaba de anunciar “urbi et orbe” (em entrevista ao PUBLICO onde procura assinalar a sua ressurreição política) que «é “insultuoso” pensar que fui o quarto elemento da troika».


Mesmo correndo o risco de poder parecer estranho, desta vez sou tentado a concordar com Vítor Gaspar. É que é intelectualmente estúpido conceber-se uma “troika” de quatro elementos (só mesmo à liberdade criativa de Alexandre Dumas é que se pode ter admitido que os “Três Mosqueteiros” se revelassem afinal um quarteto); assim, o papel desempenhado por Vítor Gaspar não terá sido o de quarto lado dum triângulo, antes e há semelhança daquele a que Durão Barroso, então primeiro-ministro de Portugal, se prestou durante a Cimeira anglo-americana que decidiu a invasão do Iraque a pretexto da existência dumas nunca confirmadas armas químicas, o de mero factótum.

O mesmo é difícil de dizer do resto duma entrevista que Vítor Gaspar transforma noutro insulto quando de forma despudorada escamoteia realidades tão evidentes quanto a do fracasso da política de austeridade expansionista ou a incapacidade para cumprir as principais metas anunciadas para os défices anuais e para o endividamento público

É pena (ou talvez não, porque afinal Vítor Gaspar foi mais um dos paladinos do insulto nacional que consistiu na afirmação dogmática da inexistência de alternativas), mas o que ficará para a História da passagem de Vítor Gaspar pelo Terreiro do Paço é o seu triste papel de executor cego duma política desadequada aos fins anunciados e lesiva dos interesses do País que tão insigne personagem nunca se cansou de afirmar ter regressado para servir, mesmo quando à evidência a sua única preocupação (e a dos credores que o terão escolhido para a tarefa) foi a de bem executar as ordens recebidas, qual pro-cônsul serôdio que nunca pensou constituir por si só um insulto para os restantes cidadãos.

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