Embora
as imagens que correm Mundo sugiram o título, a imprensa ocidental,
comedidamente, ficou-se pelo anúncio de estar a «
Muito se tem
escrito sobre as razões para a actual crise ucraniana, que vão desde a
periclitante situação financeira do país às recorrentes suspeitas de corrupção,
que a separação cultural entre ucranianos (cerca de 65% da população) e russos
(cerca de 30%) não ajuda a ultrapassar. Como causas próximas apontam-se a
fracassada assinatura dum acordo comercial com a UE e a pressão russa para impedir
a aproximação dos interesses ocidentais ao que o Kremlin considera a sua
fronteira natural de interesses (Bielorrússia, Ucrânia, Geórgia), que a
oposição procura capitalizar a seu favor.
Recorde-se que
nos anos recentes a Ucrânia tem conhecido sucessivas reviravoltas na orientação
política e que quase todas as figuras que passaram pelo poder, como o
ex-primeiro-ministro e actual presidente ViktorMaidan Nezalezhnosti (Praça da Independência), em
Kiev.
A
pressão popular levou já à demissão do governo encabeçado por Mikola
Azarov, à aprovação duma amnistia para os manifestantes detidos pela polícia,
mas entre avanços e recuos mantem-se um clima de antagonismo, pelo que nem foi
motivo de estranheza quando no início da semana se ficou a saber que a ««Yanukovich
denuncia insurreição»Confrontos
voltaram ao centro de Kiev e fizeram vários mortos» em ambos os lados.
Enquanto isso, ia sendo dado destaque à reacção de Bruxelas, com o anúncio de
que «Chefes
da diplomacia francesa, alemã e polaca vão a Kiev»
encontrar-se com o governo e a oposição, horas antes duma reunião onde se
espera que a «
Independentemente
dos justos anseios de combate à corrupção e de aproximação à UE (apesar da
crise que atravessa esta união económica ainda representa um forte atractivo
para quem há poucas décadas abandonou do regime soviético), manifestados pela
população ucraniana, é indispensável para uma correcta apreciação da situação não
esquecer que (como escrevi no “post”
«DIVIDIDOS»)
“…uma
aproximação à UE seria seguida da deslocalização
da importante indústria tecnológica e aeroespacial”
que a Rússia mantém no país, deteriorando ainda mais uma situação económica já
precária, ou que algumas das forças políticas que hoje integram a oposição
partilham os mesmos estigmas com os políticos no poder – caso da UDAR (Aliança para a Reforma Democrática Ucraniana, cujas
siglas significam “murro”) do ex-pugilista Vitali Klitschko e do partido
Batkivshchina (Pátria) liderado por Arseni Iatseniuk, o substituto de
Iulia Timoschenko –, enquanto outras –
como o partido nacionalista
Svoboda (Liberdade), liderado por Oleg Tiahnibok – revelam
uma perigosa aproximação a teses neonazis e a grupos inorgânicos, como o Praviy Sektor (Sector Direito, maioritariamente integrado por “hooligans” associados às claques de futebol) e o menos violento Spilna Sprava (Causa Comum).
Esta realidade
tem contado com o beneplácito duma imprensa que não hesita em condenar a
actuação dos extremistas do Black Bloc nas manifestações brasileiras enquanto
branqueia imagens do mesmo tipo de actuação em Kiev (a excepção que confirma é
regra é um recente artigo do PUBLICO sobre
«Os
protagonistas da batalha de Kiev»); esta dualidade de critérios estará
também subjacente na intenção anunciada pela UE de aplicar
Depois algum aumento de
tensão, na sequência de notícias que asseguravam estar o «Exército
ucraniano autorizado a recorrer às armas», o anúncio de que a «Oposição ucraniana aceita propostas de Ianukovitch» para a
realização de eleições antecipadas e a redução dos poderes presidenciais deveria
reacender a esperança de resolução da crise, a menos que já esteja
irremediavelmente perdido o pouco controlo sobre os grupos extremistas ou que
estes, em defesa de qualquer um dos interesses em conflito, voltem à acção por
desacordo com o resultado eleitoral.
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