A ideia duma
melhoria na economia nacional, expressa em recentes notícias, como a de que o «Clima
económico melhora pelo 10º mês consecutivo» ou que o «Desemprego
cai pela sétima vez em oito meses», e na convicção com que a «OCDE
mantém previsões de retoma económica para Portugal» pode ser uma realidade,
embora também já seja do domínio público que, ao invés dos resultados do
segundo trimestre quando se terá registado um crescimento de 1,1%, «Portugal estagna nos terceiro e
quarto trimestres deste ano» e que em Setembro registámos a maior
quebra no retalho em toda a zona euro, notícias que se coadunam melhor com
o sentimento generalizado da população.
Para o cidadão
comum nem sequer era preciso saber que «Bruxelas
questiona sustentabilidade da melhoria das previsões económicas em Portugal»,
pois as perspectivas que os discursos de governantes, restantes políticos e
demais opinantes oferecem são tais que apenas aos mais incautos ou crédulos
será possível acreditar nos bons sinais que até poderão existir mas que o
conhecido laxismo nacional e a reconhecida inépcia governativa aconselham a
encarar com reservas.
Não é apenas o
malabarismo das comparações apresentadas pelos políticos (por exemplo através
da comparação entre variações periódicas e homólogas) que deve ser questionada,
mas a essência do próprio crescimento perante os referidos sinais
contraditórios a justificar que «Bruxelas
duvida da consistência do crescimento do PIB português» e a manutenção duma
solução da “austeridade expansionista” que apenas tem assegurado a austeridade
e prometido a expansão (sempre) para o ano seguinte...
Com a
aprovação na generalidade dum Orçamento
que vai empobrecer o país revela-se cada vez mais clara a razão pela qual
os cidadãos se mostram tão pouco optimistas. A ideia de que está próximo o fim
da crise ou a afirmação de que «Bruxelas
vê Portugal a crescer 1,5% no primeiro ano do pós-troika» merece uma
credibilidade directamente proporcional ao vazio que os cidadãos sentem no seus
bolsos e uma sonora gargalhada quando, sabida que é a grande dependência
nacional face aos parceiros europeus, «Bruxelas confirma previsão de retoma de
Portugal num contexto de menor dinamismo na Zona Euro».
Mesmo
que se venha a confirmar a sustentabilidade dos primeiros sinais de
crescimento, o sentimento generalizado de perca de rendimentos e acréscimo das
dificuldades para trabalhadores, pequenos empresários e aposentados, apenas
confirma o fracasso do princípio do “trickle
down economics” (ideia defendida pelos monetaristas, segundo a qual a
concentração da riqueza nos mais abastados e com maior propensão à poupança
acabará por “deslizar” até aos estratos mais desfavorecidos e incluída nos
fundamentos do Consenso de Washington de aplicação indiscriminada pelo FMI) e que
o verdadeiro objectivo da “austeridade expansionista” sempre foi o de alterar o
modelo de distribuição da riqueza nacional em ainda maior benefício do factor
capital.
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