Depois dum primeiro fracasso das negociações sobre o
programa nuclear iraniano anunciado em meados do mês, eis que no passado fim-de-semana as «Potências
mundiais e Irão chegam a acordo sobre nuclear».
O acordo
firmado entre o Irão e as potências com lugar permanente no Conselho de
Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia,
França, Reino Unido, China) e a Alemanha, consagrará a limitação do
enriquecimento de urânio a 5% (abaixo do limite dos 20% necessários à produção
de armamento), a suspensão da construção da central de Arak (unidade que
poderia produzir outro importante componente militar, o plutónio) e, segundo o ministro
dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, o início das inspecções da
Agência Internacional de Energia Atómica ao programa nuclear iraniano,
condições que responderão à exigência francesa que terá estado na origem do
fracasso da ronda anterior.
Na
altura, Paris fez saber que existiriam quatro pontos – controlo internacional
da totalidade das instalações nucleares, a suspensão do enriquecimento de
urânio a 20%, a redução daquele tipo de urânio já existente e a suspensão da
construção da central de Arak – sem os quais não haveria acordo; as notícias da
altura não referiam que a recusa iraniana resultasse daqueles pontos, antes o
facto das condições francesas irem além do texto americano, deixando pressupor
que os «EUA e
Irão tiveram discussões secretas antes do acordo» e a manutenção das condições para um acordo a curto prazo.
Duas semanas
volvidas, depois de “limadas algumas arestas” e concluída a visita do
Presidente francês, François Hollande, a Israel (a verdadeira razão para o
adiamento forçado pela França), eis que surgiu o acordo agora anunciado e que
nas palavras de Obama “torna
o mundo mais seguro”,
por um prazo de seis meses.
Quem não partilha a mesma opinião é o
primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que
prontamente afirmou que o «Acordo
de Genebra é "erro histórico"», comentário em que foi secundado
por outros responsáveis judaicos que ao declararem «Israel
preparado para “agir sozinho” contra Irão» contrariam seriamente a
perspectiva deixada por uma administração norte-americana talvez mais
preocupada com as hipóteses de saída airosa do Iraque e do Afeganistão ou até
com o desenvolvimento da crise síria, que com o “aliado” israelita. É verdade
que se o «Acordo
nuclear histórico entre o Irão e os EUA, deixa Israel isolado», esta é uma
realidade que o regime judaico poderá usar em benefício próprio, tanto mais que
já em tempo se afirmara «preparado
para “agir sozinho” contra Irão».
Descontada a
euforia das primeiras declarações e a ideia de que todos saíram a ganhar dum
acordo de curto prazo, se o Ocidente pode afirmar que este foi um importante
passo para a contenção dum Irão dotado de armamento nuclear, enquanto do lado
iraniano foi obtido o levantamento temporário das sanções económicas que têm
asfixiado a sua economia (quando «Pequim
saúda acordo de Genebra sobre programa iraniano» não está apenas a usar uma
fórmula diplomática mas também a expressar verdadeiro contentamento por poder
passar a adquirir “legalmente” o petróleo iraniano) e reconhecido o direito à
produção de urânio para fins não militares, parece exagerado afirmar, do ponto
de vista israelita que o «Irão
conseguiu o que queria e que acordo nuclear de Genebra é mau», pois não só
poderá deixar Israel mais livre para uma iniciativa isolada contra as
instalações nucleares iranianas como para continuar a sua política de asfixia
palestiniana através da expansão dos colonatos em territórios palestinianos.
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