domingo, 3 de novembro de 2013

A SÍNDROME DE SNOWDEN


Os mais recentes desenvolvimentos em torno do problema da ciberespionagem além de merecerem reflexão adequada justificarão até a introdução no vocabulário mundial dum novo termo.

Tal como a partir de 1973 e na sequência dum episódio de sequestro ocorrido nos arredores de Estocolmo, a manifestação de sentimentos de simpatia do sequestrado em relação ao sequestrador passou a ser conhecido como a Síndrome de Estocolmo, talvez agora se justifique passar a integrar as campanhas de branqueamento da prática de abuso e violação da privacidade dos cidadãos numa nova síndrome.

É que o recente aparecimento de notícias que dão conta «França e Espanha ajudaram EUA nas escutas» ou até mais concretamente quando os «EUA dizem que foram europeus que espiaram telefones para dar à NSA», estão a misturar-se elementos e a manipular-se os cidadãos num claro processo de desculpabilização. Quando se escamoteia a dura realidade dos Estados democráticos espiarem cidadãos nacionais ou estrangeiros indiscriminadamente e sem o mínimo indício justificativo, quando se pretende justificar tal prática à margem dos tribunais (únicas entidades reconhecidas para validarem o processo de violação da privacidade) e em nome duma nebulosa actividade de segurança nacional, não estamos apenas perante um perigoso precedente do orwelliano estado-polícia, estamos, na realidade, a abrir um perigoso precedente a mais uma forma de totalitarismo a que os Estados democráticos se revelam cada vez mais permeáveis.


Quando este processo de desculpabilização é acompanhado de justificações quase auto-infligidas e o prevaricador reage na esfera económica acusando a Alemanha de “exportar” a crise e de dificultar a retoma do euro enquanto insiste na perseguição do principal responsável pela denúncia dos abusos, bem se podia designar o conjunto dos sintomas de síndrome e atribuir-lhe o nome de Edward Snowden, o responsável pela revelação daquela realidade ao Mundo.

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