Os mais
recentes desenvolvimentos em torno do problema da ciberespionagem além de
merecerem reflexão adequada justificarão até a introdução no vocabulário
mundial dum novo termo.
Tal como a partir de 1973 e na sequência dum episódio de sequestro ocorrido nos arredores de Estocolmo, a manifestação de sentimentos de simpatia do sequestrado em relação ao sequestrador passou a ser conhecido como a Síndrome de Estocolmo, talvez agora se justifique passar a integrar as campanhas de branqueamento da prática de abuso e violação da privacidade dos cidadãos numa nova síndrome.
É que o recente aparecimento de notícias que dão conta «França
e Espanha ajudaram EUA nas escutas» ou até mais
concretamente quando os «EUA
dizem que foram europeus que espiaram telefones para dar à NSA», estão a misturar-se
elementos e a manipular-se os cidadãos num claro processo de desculpabilização.
Quando se escamoteia a dura realidade dos Estados democráticos espiarem
cidadãos nacionais ou estrangeiros indiscriminadamente e sem o mínimo indício
justificativo, quando se pretende justificar tal prática à margem dos tribunais
(únicas entidades reconhecidas para validarem o processo de violação da
privacidade) e em nome duma nebulosa actividade de segurança nacional, não
estamos apenas perante um perigoso precedente do orwelliano estado-polícia,
estamos, na realidade, a abrir um perigoso precedente a mais uma forma de
totalitarismo a que os Estados democráticos se revelam cada vez mais permeáveis.
Quando este processo de desculpabilização é acompanhado de justificações
quase auto-infligidas e o prevaricador reage na esfera económica acusando
a Alemanha de “exportar” a crise e de
dificultar a retoma do euro enquanto insiste na perseguição do principal
responsável pela denúncia dos abusos, bem se podia designar o conjunto dos
sintomas de síndrome e atribuir-lhe o nome de Edward Snowden, o responsável
pela revelação daquela realidade ao Mundo.
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