A notícia de que «Portugal
sai da recessão com crescimento de 1,1% no segundo trimestre» talvez devesse ser acolhida com
júbilo, mas quando até a reacção do governo é cuidadosa ao ponto de dizer que «Há
“sinais positivos” na economia mas é preciso “prudência”» toda a
temperança poderá ser insuficiente para evitar as previsíveis declarações
transbordantes de optimismo e de ilusão.
Aliás a simples constatação de que do anunciado crescimento do PIB não
resultará mais que uma previsão de que a «Economia deverá cair 1% em 2013 se mantiver
actual ritmo de crescimento», justifica que se esqueça qualquer
euforia em torno duma notícia que embora positiva se encontra muito longe de
sinalizar qualquer real inversão na situação que vivemos, pois
até a própria informação do INE refere que o «...Produto Interno Bruto (PIB)
registou, em termos homólogos, uma diminuição de 2,0% em volume no 2º trimestre
de 2013». Na prática e a
atestar pela reacção do PSD lembrando que «“O
caminho que temos percorrido é o correcto e está a dar os primeiros resultados”», continuando como se promete a
aposta na estratégia da “austeridade expansionista”, o que nos espera é a
continuação da degradação das condições de vida, porque na melhor das hipóteses
apenas se poderá dizer que «Portugal sai
da recessão técnica mas com dificuldades pela frente».
A
reacção adequada não pode ser a dos que afirmam as virtualidades da solução que
custou, para já, uma recessão que dura há mais de três anos, nem a de quem
assegura que o «Chumbo
do Constitucional terá puxado pelo PIB» (para refutar esta tese basta
lembrar que parte das medidas “chumbadas” foi compensada com outros cortes ou
com aumentos de impostos), antes a de demonstrar as limitações da simples observação
da evolução do PIB que, enquanto indicador que mede apenas as transacções de
bens e serviços, esquece a evolução doutros indicadores como o desemprego – que
continua a apresentar valores elevados e cuja ligeira quebra poderá nem sequer
representar qualquer criação de emprego, antes o mero efeito do aumento da
emigração – ou a pouco animadora evolução da actividade económica, conhecida
que foi que a «Produção industrial regista a segunda maior
queda na Europa», não devendo assumir isoladamente a importância que
tantas vezes lhe querem atribuir.
Mesmo
sem querer denegrir a “novidade” do crescimento do PIB, será mais aconselhável
escrever como o fez o NEGÓCIOS que a «Recessão acabou mas a retoma ainda não chegou»,
sem deixar de observar o que na realidade está a acontecer: o aumento do PIB é
insuficiente e não representará senão o crescimento dos negócios das grandes
empresas.
Na
prática, os caminhos que o país trilha não são significativamente piores que os
dos nossos parceiros comunitários, onde a par de crescimentos anémicos se
assiste à crescente dicotomia entre grandes e pequenas empresas, com as
primeiras aumentarem os resultados – geralmente à custa da redução do emprego –
e as segundas sem dinâmica e sem contribuírem para o crescimento do emprego.
Embora se trate duma situação pontual, não resisto a citar duas notícias
recentes do I, que escrevia ontem que «Ex-Scut
entraram no verão a perder em média mais de 6700 viaturas por dia»,
enquanto hoje noticiava que no mesmo universo de empresas a «Receita
por carro subiu em média 26% no primeiro semestre», comprovando que a
quebra na procura, em resultado da qual seria natural esperar uma redução na
receita da ordem dos 8%, foi mais que compensada pelo aumento dos preços, num
sector que vive cada vez melhor à sombra da protecção dum Estado que
objectivamente optou por proteger os fortes em prejuízo dos fracos.
Assim, quando
lerem as manchetes sobre os discursos da “rentrée” política e a renovação das
promessas do fim da crise, lembrem-se que esta não tem sido propriamente igual
para todos e que mais que o crescimento do PIB ou o pagamento a qualquer preço
da dívida o que importa – o que deveria realmente importar – são as pessoas e a
forma como lhes está a ser permitido viverem numa economia onde a distribuição
da riqueza é cada vez mais desequilibrada.
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