Lembrado de vez em quando pela sua importância estratégica, Gibraltar
(território sob administração inglesa desde o século XVIII, cujo nome resulta
duma corruptela da designação árabe Jebel Al-Tarik, em homenagem ao berbere,
Tarik ibn Ziyad, que comandou o exército muçulmano que iniciou a conquista da
Península Ibérica no ano de 711) voltou aos cabeçalhos das notícias na
sequência da recente imposição de apertados controlos fronteiriços pelo governo
espanhol.
Este diferendo, que os ingleses dizem ter endurecido com o governo de
Mariano Rajoy, terá recrudescido por causa de direitos de pesca disputados
entre espanhóis e gibraltinos. Embora numa primeira fase tenha chegado a ser
notícia que «Cameron
e Rajoy anunciam negociações para pôr fim à crise de Gibraltar», depois de
ter chegado de Londres a informação que «Navios
de guerra britânicos visitam Gibraltar em plena crise», Madrid respondeu assegurando que «Espanha
equaciona levar à ONU diferendo com o Reino Unido por causa de Gibraltar»; enquanto a «Tensão
sobe de tom, com Londres a ameaçar acções legais “sem precedentes”»
continua por realizar um verdadeiro debate em torno dos processos coloniais e
dos problemas que persistem sem solução.
Independentemente das razões que assistam às duas partes e de qual venha
a ser o desfecho do diferendo, há um conjunto de outras circunstâncias que
julgo interessante e merecedoras dalguma reflexão. Assim, enquanto o governo
espanhol parece muito preocupado com o enclave britânico de Gibraltar e esquece
a situação do enclave que mantém em Ceuta (já para não falar da “velha” disputa
luso-espanhola por Olivença), o inglês, ou pelo menos a sua imprensa, não perde
a oportunidade para comparar o conflito por Gibraltar com o ocorrido pelas
ilhas Malvinas que deu azo a que Margaret Thatcher tivesse recuperado apoio
interno para a aplicação das suas políticas anti-unionistas e monetaristas.
Tal como então sucedeu com uma Dama de Ferro em nítida quebra de
popularidade, também agora Rajoy (tão conservador e neoliberal quanto ela) se
debate com uma evidente quebra de confiança na sequência do caso Bárcenas (o
escândalo de corrupção que envolve as principais figuras do partido no governo)
e nas canhestras explicações com que tentou justificar o injustificável.
Se à evidente tentativa de fazer esquecer o seu envolvimento num caso de
dinheiros sujos juntarmos que o disputado território de Gibraltar – ou “The
Rock” (o Rocehdo), segundo a designação popular inglesa – é um dos vários
paraísos fiscais que pontilham a Europa (e sede para os principais operadores
de apostas “on-line”) e que graças à
permissividade das suas leis e dos seus sistemas financeiros asseguram às
grandes empresas e aos seus accionistas mecanismos para perpetuarem as fugas
fiscais e ainda a indispensável opacidade aos negócios pouco claros em que
aqueles se envolvem, talvez se entenda melhor porque é que o “mayor” de Londres proclamou sem pejo: «Tirem
as mãos do nosso rochedo».
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