sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PÂNTANO ÉTICO

Depois de ler no PUBLICO que, a propósito da questão do possível favorecimento na aquisição de acções do ex-BPN, «Rui Machete desmente-se a si próprio» em novas declarações e enquanto reflectia sobre a fraca idoneidade da casta que se tem perpetuado no poder, veio-me à memória o teor da crónica desta semana de César das Neves.


No espaço que semanalmente ocupa no DN, escreveu aquele professor universitário e, convém não esquecer de referir, conselheiro económico do tempo em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro, ainda a propósito da polémica em torno do “swaps” que «O fenómeno mantém-se obscuro, mas com claros sinais de irregularidade. Só que, a existir crime, os principais culpados situam-se no anterior Governo. Em vez de o assumir, esse partido, agora na oposição, ataca o actual Executivo em aspectos laterais». É claro que o objectivo do artigo «“Swap” democrático» não é o de tentar explicar o funcionamento dos “swaps” nem sequer o “negócio” que estes representam (como seria expectável num professor de economia), mas apenas o de desviar o cerne da polémica – a ministra mentiu ou não quando afirmou que a informação não fora disponibilizada pelo anterior governo – para a questão acessória da chicana política, que o próprio descreve assim: «Usar, durante uma emergência nacional, casos desta delicadeza como arma de arremesso, chicana mediática ou bloqueio político é inaceitável».

Tal como sucedeu no caso de Miguel Relvas, onde a bacoquice da exibição duma licenciatura duvidosa se arrastou durante penosos meses sem que o primeiro-ministro ou o visado lhe pusessem cobro e traduzida num comportamento próprio de quem se julga acima dos outros, voltamos agora, nos casos de Maria Luís Albuquerque e de Rui Machete, à situação da manipulação e da mentira (quem ainda duvida que a ministra das Finanças mentiu intencionalmente à comissão parlamentar), num quase insulto à inteligência dos demais cidadãos, tudo isto enquanto “opinion makers” do calibre do já citado César das Neves se esforçam por acrescentar fumo ao nevoeiro.

O que na realidade move os comentadores da esfera do poder não é o desejo de informar ou esclarecer, antes o de escamotear evidências, na precisa linha de actuação dum chefe de governo que transvertido em líder político faz discursos onde nem se coíbe de recuperar o desgastado fantasma das “forças de bloqueio”, que agora chama de “risco constitucional” e que José Manuel Pureza diz num artigo no DN que «…evidenciam ter da democracia uma visão enfadada quando ela impõe limites a uma governação em estilo mãos livres» e numa clara identificação com o difuso conceito de ética de que enfermam.

Tão vago e difuso que confundem o chamado “interesse nacional” (aquele chavão que não há político que se preze que não o invoque ao menor pretexto) com os interesses da minoria que representam – aquela que originou e alimenta uma pretensa crise a cuja sombra tem prosperado e cuja actuação emerge esporadicamente em notícias como a que assegura que o «Fundo de pensões de Gaspar evita comprar dívida pública portuguesa» – e a expensas do interesse geral.

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