terça-feira, 20 de agosto de 2013

ESTRATÉGIAS DE BETÃO

O reatamento formal de negociações entre Israel e a Autoridade Palestiniana, interrompidas desde 2010, poderia constituir um sinal positivo não fora o facto de uma vez mais se sentarem à mesa de negociações duas delegações sem a mínima perspectiva de entendimento.

Como se não bastasse a presença dum mediador claramente favorável a uma das partes, esta encarregou-se nas vésperas do primeiro encontro de desferir a machadada final em qualquer hipótese de acordo quando foi divulgado que «Israel vai expandir colonatos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental»; ninguém – salvo o “amigo americano”, cuja reacção à expansão dos colonatos judaicos tem vindo a consolidar a cada ano que passa, a cada novo assentamento e a cada novo colono, suavizando-a para finalmente aceitar a posição israelita – acredita na ingenuidade do governo israelita, nem sequer que este anúncio se tenha destino apenas a acalmar os sectores mais radicais perante ao anúncio de que «Israel começou a libertar palestinianos em véspera das negociações de paz».


Enquanto nas sucessivas tentativas de negociação e em função das pressões internacionais e da própria conjuntura palestiniana – não esqueçamos que além da divisão entre partidários do Hamas e da OLP, esta última é o resultado da aliança de várias tendências e grupos, onde pontifica a Fatah – as posições potencialmente conciliadoras destes raramente foram acompanhadas pela contraparte. Mesmo quando em 1993 foi alcançado em Oslo um acordo que previa uma retirada parcial do exército israelita e a instalação da Autoridade Nacional Palestiniana, a aparente cedência judaica rapidamente se transformou numa armadilha para Yasser Arafat (o histórico líder da Fatah e da OLP) e para o povo palestiniano, tais foram as limitações e a persistência na presença militar israelita que culminou com a construção do Muro da Cisjordânia (muro de betão erigido ao longo de mais de 700 km a pretexto de assegurar a protecção de colonatos judaicos instalados no território palestiniano da Cisjordânia mas que na realidade funciona como meio para aumentar a área ocupada e restringir a deslocação das populações palestinianas, já de si separadas entre esta região e a Faixa de Gaza).

Não será pois de estranhar que as expectativas para as presentes conversações não possam deixar de ser reduzidas ou nulas, tanto mais que há tradicional relutância judaica acresce uma clara falta de liderança (e de representatividade) da parte palestiniana; já digno de nota é o facto de na imprensa internacional surgirem, em número cada vez maior, opiniões duvidando da solução dos “dois estados”, ainda que uns o façam por mero pragmatismo e apontando a responsabilidade à política judaica de expansão dos colonatos, enquanto outros tendem a reconhecer o fracasso prático da solução, propondo em alternativa um debate aberto e que integre diferentes hipóteses.

Confirmando a ideia que a solução dos “dois estados” se afigura cada vez menos sustentável é que até o governo de Tel-Aviv parece apostado numa nova etapa da sua famigerada política de “apartheid”; isso mesmo transparece da proposta de alargamento do recrutamento militar a grupos não judaicos, como os cristãos, os drusos e os ortodoxos gregos – que levou mesmo o YNET NEWS a noticiar há mais de um ano que “Líderes cristãos debatem alistamento no IDF” («Christian leaders spar over IDF enlistment») –, no que pode ser comparado a uma manobra de fomento de rivalidade entre aqueles grupos e os árabes, numa confissão da situação de facto, que é a de “dois povos-um estado”, onde este serve os interesses da minoria através dum rigoroso sistema de “apartheid.

Esta é uma realidade tão indesmentível que até as próprias autoridades judaicas já revelam dificuldade em a esconder. Á política de instalação de colonatos em territórios militarmente ocupados (prática ilegal ao abrigo das leis internacionais) seguiu-se um processo de bantustisação (pseudo-estados de base tribal criados pelo regime sul-africano do “apartheid”, de forma a manter a maioria negra fora dos bairros e terras da minoria branca, mas suficientemente perto para servirem de fontes de mão-de-obra barata) desses territórios – política que teve o seu expoente na criação duma Autoridade Nacional Palestiniana dissociada das populações que pretende representar – e que agora, em aparente reconhecimento do fracasso, admitem rever criando um simulacro de abertura, conquanto nada disto chegue à mesa das negociações nem pareça preocupar uma delegação palestiniana frágil, lamurienta e sem outro poder que o de se representar a si própria numa farsa de negociações para agradar ao “amigo americano”.

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