quarta-feira, 10 de abril de 2013

NÃO… OU A OPÇÃO PELO LODAÇAL


Muito se tem dito e escrito nos últimos dias a propósito do chumbo pelo Tribunal Constitucional duns quantos pontos do OE para 2013 e até das condições para a continuidade em funções do governo…


…mas talvez poucos tenham sintetizado a situação tão claramente quanto o fez Paul Krugman, que nuns escassos dois parágrafos resumiu a questão a um simples «Just Say Nao».

A apreciação do reputado prémio Nobel baseia-se no simples pressuposto enunciado pelo FINANCIAL TIMES após o anúncio televisivo do primeiro-ministro, que o PUBLICO resumiu dizendo que «Passos recusa aumentar impostos e ordena corte na despesa das áreas sociais», que aponta para a continuação das políticas de redução da despesa pública e na sua natural opção (não esqueçamos que Krugman é um dos expoentes da corrente neo-keynesiana) por privilegiar o investimento público. No caso concreto de Portugal e do governo chefiado por Passos Coelho, não pode apenas ser apontada a sua clara opção pela solução neo-monetarista de redução da intervenção estatal na economia, tendo igualmente de ser equacionadas outras condicionantes que (sabemos nós os que convivemos com estes governantes) estão muito além da conjectura (e da informação) que chegam a Londres (Financial Times) ou a Nova York (Paul Krugman).

Enquanto para os observadores estrangeiros é no plano ideológico que se situa o grande entrave para uma mudança de política em Portugal, internamente sabemos (pelo menos os que não bajulam os poderes estabelecidos) que a verdadeira barreira é o dogmatismo ligado a uma incapacidade congénita para reconhecer os erros e, na sua função, reajustar a prática.

Para Paul Krugman (como para qualquer pessoa capaz de raciocinar e de questionar as suas próprias opções) é natural que na iminência do precipício se actue mudando a direcção da caminhada e portanto, perante o fracasso duma política de “austeridade expansionista” que apenas logrou expandir a recessão, se diga “não” à sua continuação.

A questão é que a estratégia do governo de Passos Coelho (e de quem o apoia) não está orientada para a resolução dum problema de desequilíbrio orçamental e financeiro, mas para a obtenção doutro resultado, que não é senão a redução do Estado Social que foi a origem e razão de ser da União Europeia imaginada como solução para um pós-guerra pleno de dificuldades. Se dúvidas ainda houver sobre tal desiderato veja-se a pronta solução adiantada por Vítor Bento (conhecido apoiante das correntes neoliberais e conselheiro de Estado) que sem pejo ou hesitação assegura que «Decisão do TC só deixa “três portas abertas: impostos, fecho de serviços ou despedimentos”» como se os gastos com as PPP, as rendas excessivas ou o serviço da dívida não existissem.

Fortalecendo a ideia da intencionalidade na redução do papel social do estado, veja-se que reagindo a uma notícia veiculada pelo reputado Wall Street Journal, onde era indiciado que os «subsídios podem ser pagos em dívida pública», não tardou o anúncio de fonte oficial de que «Governo paga subsídios de férias a funcionários e pensionistas em dinheiro», numa clara opção por uma estratégia de “quanto pior melhor” (opinião partilhada por Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa, quando assegura que «“Governo utiliza o pior da autoridade para interromper o Estado de Direito”»), particularmente querida dum fanatismo cada vez mais evidente que nos empurra já não para o pântano da estagnação económica (nesse já mergulhámos há algum tempo) mas para o lodaçal duma sociedade cada vez mais desprovida doutros valores que não os do dinheiro e do lucro.

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