O já tantas
vezes referido desacerto entre a teoria e a realidade verificado nas projecções
macroeconómicas efectuadas pelos “técnicos” que têm determinado o duro viver de
milhões de europeus, voltou a ser notícia esta semana quando o NEGÓCIOS divulgou que «Académicos
terão descoberto erro na fórmula de um estudo que sustenta políticas de
austeridade».
Depois
dos reconhecidos “erros” cometidos pelo FMI (ver o “post” «OFICIAIS
E POPULARES»), foi agora divulgado que o famoso estudo de 2010, assinado
por dois economistas norte-americanos (Kenneth
Rogoff e Carmen Reinhart) e publicado pelo National
Bureau of Economic Research sob o título de «Growth
in a Time of Debt»,
terá reduzido o universo dos dados observados, sem outra explicação que um
elementar erro de manuseio duma folha de cálculo, e recorrido a métodos de
cálculo pouco convencionais no processo que conduziu à conclusão da existência
duma forte correlação entre elevadas dívidas públicas e reduzido crescimento
económico.
A conclusão de
que o elevado endividamento público está na origem do fraco crescimento
económico tem servido de argumento aos defensores das políticas de austeridade que grassam por essa Europa fora, pese
embora outros investigadores terem questionado desde a primeira hora a validade
da asserção, interrogando-se se não seria o fraco desempenho das economias a
condicionar o aumento do endividamento.
Duma forma, ou da outra, a verdadeira importância do novo estudo (da
autoria de três economistas da Universidade de
Massachusetts, Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin) não resulta apenas da refutação das conclusões iniciais de Rogoff e
Reinhart, mas principalmente por revelar o recurso abusivo a conclusões
politicamente “agradáveis”.
Acontece que depois de publicada a contestação e da fraca réplica de
Reinhart e Rogoff (pouco mais fizeram que reafirmar dogmaticamente a validade
da conclusão inicial) todas as dúvidas ganham novo peso.
Inegável é que agora que o mundo académico assiste a mais um duelo
Harvard-Massachusetts, enquanto o mundo real (aquele onde se debatem pessoas
reais) soçobra mergulhado num problema que talvez não exista…
…mas esperem lá, quantos não andamos há anos a dizê-lo?
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