Os tempos
poderão não andar de feição para grandes comemorações e os espíritos pouco
dispostos a grandes festas, mas tudo isso são afinal razões de sobra para
celebrarmos o espírito do 25 de Abril e não apenas na data de calendário mas
todos os dias.
Aliás, lembrar
os tempos em que um Povo saiu à rua para exigir uma Liberdade que por direito
sempre lhe pertenceu, será talvez a melhor panaceia aos que insistem em
mergulhar-nos numa nebulosa crise para a qual a esmagadora maioria dos
portugueses pouco ou nada contribuiu, mas em que insistem sejamos nós a pagar a
factura.
Há talvez
muito tempo que não faz tanto sentido lembrar (e aplicar) uma das palavras de
ordem mais gritada em 74; agora como então «O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO» e
a prova disso (e do crescente terror que os fautores das políticas neoliberais
dele sentem) é que a imprensa nacional já deixa entrever alguns desses temores
quando dá voz a um circunspecto banqueiro que assegura que «A
austeridade é violenta e está a chegar ao limite» (embora Ricardo Salgado o
tenha feito no contexto do reajustamento orçamental, a mensagem subliminar está
lá bem presente), ao presidente do Conselho Económico e Social quando diz que «receia
que medidas do Governo deixem economia “esfrangalhada”»
ou replica a afirmação do presidente da Comissão Europeia «Durão
Barroso admite que “austeridade atingiu o seus limites”». Basta recordar
algumas das notícias e dos comentários que prontamente se sucederam às grandes
manifestações populares que tiveram lugar nos últimos meses para compreender
que em boa medida a solução para este nosso mal viver começará a ser construída
a partir do momento que os cidadãos transformem as ruas do País nos caudais do
seu descontentamento.
Atrás de
tempos vêm tempos e quando quase tudo parece perdido resta fazer sair à rua a
dignidade dum Povo contra a indignidade duma minoria que age declaradamente
contra os interesses da maioria, tanto mais que, como diz o poeta (Fausto
Bordalo Dias), “quem canta sempre se
levanta / calados é que podemos cair”.
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