quarta-feira, 17 de abril de 2013

MARATONA SANGRENTA


No dia em que a perigosa Coreia do Norte celebrava o 101º aniversário do nascimento de Kim Il-sung, o fundador e “líder eterno” da república norte-coreana, e em que a vizinha Coreia do Sul e o Japão esperavam a ocorrência de mais um ensaio balístico e/ou nuclear, acabou por ser a pacífica cidade norte-americana de Boston o palco do acontecimento mais bombástico.

Local onde se realizava a tradicional Maratona anual (prova centenária que se realiza desde 1897, celebrando o Dia do Patriota, efeméride ligada ao início da revolução norte-americana contra o domínio inglês) que este ano ficou marcada pelas explosões ocorridas na zona da meta. Após a chegada da maioria dos atletas ocorreram duas explosões que vitimaram centenas de pessoas (maioritariamente espectadores que assistiam à chegada e que as primeiras notícias contabilizaram em três mortos e mais de cem feridos) e a que, sensatamente, as autoridades norte-americanas não atribuíram imediata conotação terrorista, embora o presidente Obama tenha prontamente anunciado que as autoridades vão encontrar e punir os responsáveis.


Apesar da administração Obama ter marcado uma clara diferença na abordagem do problema relativamente à anterior – enquanto Bush classificou prontamente o 11 de Setembro como uma ataque aos EUA, abrindo caminho a uma abordagem militar, Obama sempre se referiu a este atentado como crime e defendeu a punição dos responsáveis no quadro dos sistema judicial. Ainda assim, foi prontamente noticiado que «Talibãs do Paquistão negam qualquer envolvimento nas explosões em Boston», enquanto eram anunciadas medidas de reforço da segurança na próxima Maratona de Londres (a segunda mais importante no calendário mundial e que se realiza no próximo fim-de-semana), em várias cidades norte-americanas e europeias ou até que o «Japão redobra segurança em vários pontos do país depois das explosões em Boston».

Já com as investigações entregues ao FBI (a polícia federal norte-americana), foi noticiado no próprio dia que a «Polícia de Boston encontrou outros dois engenhos explosivos», para mais tarde ser desmentida quando o «FBI diz que não há mais ameaças em Boston» enquanto se informava que «Bombas eram artesanais, FBI sem detenções investiga origem do ataque», facto que abre uma perspectiva diversa sobre os acontecimentos e não exclui a hipótese de se ter tratado de um acto de “terrorismo interno”, o que levou à notícia de que «Explosões em Boston poderão resultar de atentado da extrema-direita», ou a uma mais recente peça do PUBLICO que veicula a ideia que «Ataque em Boston “parece-se mais com Atlanta ou Oklahoma”»

Esta hipótese parece tanto mais credível quanto os EUA atravessam um delicado processo de discussão a propósito da famigerada questão do direito constitucional à posse de armas e a data do atentado coincide com uma efeméride particularmente cara aos sectores mais conservadores e habitualmente conotados com a defesa intransigente desse princípio; a divisão da opinião pública norte-americana sobre a questão do direito ao porte de arma, foi precisamente o tema do editorial publicado pelo THE NEW YORK TIMES na véspera da corrida e que aqui deixo para reflexão:

«Um ponto de vista misto dos Estados sobre as armas

Pelo Conselho Editorial

O bom, o mau e o vilão estão a emergir das assembleias legislativas de todo o país com os legisladores a apoiarem propostas de armas radicalmente diferentes, na sequência do massacre que ocorreu em Dezembro na localidade de Newtown, no Connecticut.

Enquanto nuns estados tem sido reforçada a segurança no uso de armas, noutros está a ser consideravelmente enfraquecida pelo lobby das armas em nome da defesa do direito de porte de arma. Até agora, cinco estados já aprovaram sete leis que melhoram a segurança das armas, enquanto 10 outros promulgaram 17 leis minando controlos, de acordo com o Centro de Direito para Prevenir a Violência Armada, que acompanha a questão.

A mensagem aqui é clara: Permanece uma grande necessidade de ampla legislação federal para fechar brechas interestaduais potencialmente letais.

No lado negativo da segurança das armas, os legisladores do Arkansas votaram que fosse permitido o porte de armas nas igrejas e nos campus universitários. Legisladores de Dakota do Sul autorizaram os conselhos escolares a armar os professores. Residentes de Tennessee têm agora o direito de armazenar armas no seu carro no local de trabalho, mesmo contra a objecção das entidades patronais. Propostas claramente inconstitucionais declarando nulo qualquer novo controlo federal de armas foram introduzidas em 36 legislaturas estaduais, de acordo com a Sunlight Foundation.

Políticas regressivas sobre o uso de armas estão também em discussão nas pequenas cidades. O Conselho Municipal de Nelson, na Geórgia, promulgou recentemente o Family Protection Ordinance, que obriga os chefes de família a possuir armas e munições. Membros do Conselho declararam que a lei era uma demonstração de apoio ao direito de porte de arma mais do que uma lei que esperavam ver aplicada.

No lado positivo, Maryland aprovou algumas das medidas mais duras no verdadeiro sentido do controle de armas – proibindo as armas de assalto, a posse de armas de fogo por doentes mentais, e exigindo a recolha das impressões digitais dos compradores de armas e obrigando a curso de formação em segurança e prática de tiro. Estas e leis mais fortes em Nova York, Connecticut e Colorado são importantes passos locais para a frente. Mas ainda necessitam de controlos federais para que possam ser totalmente eficazes e não comprometidos por estados mais brandos.

O poder do lobby das armas, através dos financiamento eleitorais e da propaganda, tem sido evidente nas assembleias legislativas ao longo de décadas e os seus apoiantes sentem que tem aumentado desde a carnificina de Newtown. “Os joelhos pararam de tremer”, disse um porta-voz do Comité de Cidadãos para o direito de porte de armas ao The Wall Street Journal.
Nesta fase, os dois lados interrogam-se abertamente – apesar da decisão positiva do Senado que permitiu votar medidas de controlo dos antecedentes criminais – se o Congresso estará à altura de enfrentar a questão.»

enquanto recordo que se assinala no dia 19 o 18º aniversário do Atentado de Oklahoma, onde Timothy McVeigh (tido como simpatizante das teorias políticas de extrema direita e seguidor de William Luther Pierce, um dos principais líderes do movimento neonazi norte-americano) fez detonar um camião bomba com mais de 2 toneladas de explosivos à porta dum edifício público, causando a morte de 168 pessoas e mais de 500 feridos.

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