No dia em que
a perigosa Coreia do Norte celebrava o 101º aniversário do nascimento de Kim
Il-sung, o fundador e “líder eterno” da república norte-coreana, e em que a
vizinha Coreia do Sul e o Japão esperavam a ocorrência de mais um ensaio
balístico e/ou nuclear, acabou por ser a pacífica cidade norte-americana de
Boston o palco do acontecimento mais bombástico.
Local onde se
realizava a tradicional Maratona anual (prova centenária que se realiza desde
1897, celebrando o Dia do Patriota, efeméride ligada ao início da revolução norte-americana
contra o domínio inglês) que este ano ficou marcada pelas explosões ocorridas
na zona da meta. Após a chegada da maioria dos atletas ocorreram duas explosões
que vitimaram centenas de pessoas (maioritariamente espectadores que assistiam
à chegada e que as primeiras notícias contabilizaram em três
mortos e mais de cem feridos) e a que, sensatamente, as autoridades
norte-americanas não atribuíram imediata conotação terrorista, embora o
presidente Obama tenha prontamente anunciado que as
autoridades vão
encontrar e punir os responsáveis.
Apesar da
administração Obama ter marcado uma clara diferença na abordagem do problema
relativamente à anterior – enquanto Bush classificou prontamente o 11 de
Setembro como uma ataque aos EUA, abrindo caminho a uma abordagem militar,
Obama sempre se referiu a este atentado como crime e defendeu a punição dos
responsáveis no quadro dos sistema judicial. Ainda assim, foi prontamente
noticiado que
«Talibãs
do Paquistão negam qualquer envolvimento nas explosões em Boston», enquanto
eram anunciadas medidas de reforço da segurança na próxima Maratona de Londres
(a segunda mais importante no calendário mundial e que se realiza no próximo
fim-de-semana), em várias cidades norte-americanas e europeias ou até que o «Japão redobra segurança em vários pontos do país
depois das explosões em Boston».
Já com as
investigações entregues ao FBI (a polícia federal norte-americana), foi
noticiado no próprio dia que a «Polícia de Boston
encontrou outros dois engenhos explosivos», para mais tarde ser desmentida quando
o «FBI
diz que não há mais ameaças em Boston» enquanto se informava que «Bombas
eram artesanais, FBI sem detenções investiga origem do ataque», facto que
abre uma perspectiva diversa sobre os acontecimentos e não exclui a hipótese de
se ter tratado de um acto de “terrorismo interno”, o que levou à notícia de que
«Explosões em Boston poderão resultar de atentado da
extrema-direita», ou a uma mais recente peça do PUBLICO que veicula a ideia que «Ataque
em Boston “parece-se mais com Atlanta ou Oklahoma”»
Esta hipótese parece tanto mais credível
quanto os EUA atravessam um delicado processo de discussão a propósito da
famigerada questão do direito constitucional à posse de armas e a data do
atentado coincide com uma efeméride particularmente cara aos sectores mais
conservadores e habitualmente conotados com a defesa intransigente desse
princípio; a divisão da opinião pública norte-americana sobre a questão do
direito ao porte de arma, foi precisamente o tema do editorial
publicado pelo THE NEW YORK TIMES na véspera da corrida e que aqui deixo para reflexão:
«Um ponto de vista misto dos Estados sobre as armas
Pelo
Conselho Editorial
O bom, o mau
e o vilão estão a emergir das assembleias legislativas de todo o país com os
legisladores a apoiarem propostas de armas radicalmente diferentes, na
sequência do massacre que ocorreu em Dezembro na localidade de Newtown, no
Connecticut.
Enquanto
nuns estados tem sido reforçada a segurança no uso de armas, noutros está a ser
consideravelmente enfraquecida pelo lobby das armas em nome da defesa do
direito de porte de arma. Até agora, cinco estados já aprovaram sete leis que
melhoram a segurança das armas, enquanto 10 outros promulgaram 17 leis minando
controlos, de acordo com o Centro de Direito para Prevenir a Violência Armada,
que acompanha a questão.
A mensagem
aqui é clara: Permanece uma grande necessidade de ampla legislação federal para
fechar brechas interestaduais potencialmente letais.
No lado
negativo da segurança das armas, os legisladores do Arkansas votaram que fosse
permitido o porte de armas nas igrejas e nos campus universitários.
Legisladores de Dakota do Sul autorizaram os conselhos escolares a armar os
professores. Residentes de Tennessee têm agora o direito de armazenar armas no
seu carro no local de trabalho, mesmo contra a objecção das entidades
patronais. Propostas claramente inconstitucionais declarando nulo qualquer novo
controlo federal de armas foram introduzidas em 36 legislaturas estaduais, de
acordo com a Sunlight Foundation.
Políticas
regressivas sobre o uso de armas estão também em discussão nas pequenas
cidades. O Conselho Municipal de Nelson, na Geórgia, promulgou recentemente o Family Protection Ordinance, que obriga os chefes de família a possuir armas e munições. Membros do
Conselho declararam que a lei era uma demonstração de apoio ao direito de porte
de arma mais do que uma lei que esperavam ver aplicada.
No lado
positivo, Maryland aprovou algumas das medidas mais duras no verdadeiro sentido
do controle de armas – proibindo as armas de assalto, a posse de armas de fogo
por doentes mentais, e exigindo a recolha das impressões digitais dos
compradores de armas e obrigando a curso de formação em segurança e prática de
tiro. Estas e leis mais fortes em Nova York, Connecticut e Colorado são
importantes passos locais para a frente. Mas ainda necessitam de controlos
federais para que possam ser totalmente eficazes e não comprometidos por
estados mais brandos.
O poder do
lobby das armas, através dos financiamento eleitorais e da propaganda, tem sido
evidente nas assembleias legislativas ao longo de décadas e os seus apoiantes
sentem que tem aumentado desde a carnificina de Newtown. “Os joelhos pararam de
tremer”, disse um porta-voz do Comité de Cidadãos para o direito de porte de
armas ao The Wall Street Journal.
Nesta fase,
os dois lados interrogam-se abertamente – apesar da decisão positiva do Senado
que permitiu votar medidas de controlo dos antecedentes criminais – se o
Congresso estará à altura de enfrentar a questão.»
enquanto recordo que se assinala no
dia 19 o 18º aniversário do Atentado de Oklahoma, onde Timothy McVeigh (tido
como simpatizante das teorias políticas de extrema
direita e seguidor de William Luther Pierce, um dos principais líderes do
movimento neonazi norte-americano) fez detonar um camião bomba com mais de 2 toneladas
de explosivos à porta dum edifício público, causando a morte de 168 pessoas e
mais de 500 feridos.
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