sábado, 6 de abril de 2013

MARCOS... OU TALVEZ NÃO!



O futuro dirá se esta foi uma semana a marcar com uma pedra branca, ou não!

Não apenas no plano nacional mas também no internacional, onde ao fim duma década de esforços e de negociações foi notícia o facto da ONU ter finalmente «Aprovado primeiro tratado internacional sobre comércio de armas», acordo que poderá introduzir algum travão no multimilionário negócio da venda de armamento, mas que principalmente poderá contribuir para a redução do número de mortes que anualmente ocorrem nos quatro cantos do mundo, pois os países signatários comprometer-se-ão a avaliar o destino dos “equipamentos” antes da conclusão do negócio.

É claro que não houve unanimidade e alguns dos principais fornecedores (China e Rússia) e compradores (Egipto, Índia e Indonésia) abstiveram-se alegando que o texto fica aquém do desejável no caso dos “actores não-governamentais”; a entrada em vigor do acordo depende agora da ratificação de cada um dos estados (só após a 50ª é que o tratado entrará efectivamente em vigor) mas o mais positivo foi o facto do principal fornecedor (EUA) ter votado favoravelmente, apesar da conhecida oposição da poderosa NRA (National Rifle Association), ainda que o efectivo alcance da iniciativa só possa ser avaliado a prazo, por arriscar não passar de mais uma manobra de fachada para acalmar alguma opinião pública, deixando na prática tudo como está e facilitando a proliferação da distribuição e venda de armamento a coberto dum pretenso acordo para que este não seja usado em abusos humanitários, terrorismo, crime organizado transfronteiriço e violações da legislação humanitária.

Quem esqueceu já que se na década de noventa do século passado foi anunciado um acordo de não proliferação nuclear que os principais actores (EUA e China) nunca ratificaram, também este pode facilmente ser transformado em letra morta.

No plano nacional ocorreram a muito aguardada decisão sobre a constitucionalidade dalguns pontos do OE para 2013 (com a notícia de que «Constitucional chumba corte de subsídio de férias de funcionários públicos e dos pensionistas») e a muito reclamada demissão do ministro Miguel Relvas. A saída dum ministro há muito contestado, ao invés de prenunciar o regresso a alguma normalidade política deixou antes mais questões e fundadas dúvidas sobre outros conluios governamentais, pois a associação da sua demissão ao anúncio das conclusões da auditoria à universidade responsável pela sua mais que duvidosa licenciatura, que levou o PUBLICO a noticiar que o ministro Nuno «Crato não pode anular licenciatura de Relvas, mas espera que tribunal o faça», e o facto noticiado pelo I de que o “timing” da demissão foi concertado com o primeiro-ministro, revela que nem a sua saída assegurará o fim da cultura de compadrio e manipulação a que há muito se encontra associado. Pior ainda quando na mesma notícia se assegura que «Relvas demite-se mas não exclui ir para o parlamento», assim confirmando que os envolvidos não revelam o menor indício de ter entendido as razões que levaram a tornar viral a campanha “Vai estudar, Relvas!”

Com Relvas em qualquer das filas (no governo ou no parlamento) continuaremos a assistir à proliferação do mais desbragado arrivismo e despudor político; contrariamente ao que escreve Manuel Carvalho em «Um bom dia para Portugal» com a saída de Relvas do governo nem este se libertou dum pesado fardo político, nem o país pode congratular-se pelo regresso da normalidade cívica e ética ao regime, porque nada prenuncia o fim do pior que a cultura política pode produzir e o autismo de que sucessivos governantes têm dado mostras persiste após o anúncio de que «Decisão do TC mostra que opções do Governo 'afrontam direitos dos trabalhadores'», quando ao invés de retirar a única ilação possível duma segunda declaração de inconstitucionalidade se admite na imprensa que «Chumbo do TC pode levar Governo a tentar negociar nova revisão das metas», procurando assim relegar para o limbo da memória a gravidade do facto do actual governo nunca ter elaborado um OE isento de dúvidas sobre a respectiva legalidade, nem daí extrair qualquer ilação sobre a idoneidade e sentido ético do executivo (como escreve Henrique Monteiro no artigo do EXPRESSO «Sete pontos sobre o terramoto do TC»), apenas porque conta previamente com o apoio presidencial quando «Cavaco diz que Governo "tem toda a legitimidade" para governar».


Haverá melhor exemplo de total ausência de ética e da perpetuidade dos “Relvas” que esta manipulação dos conceitos de legitimidade eleitoral e legitimidade democrática?

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