Demasiadas
vezes se assinalam factos marcantes dizendo que nada será como antes. Isso
mesmo parece poder concluir-se dos atentados que ocorreram no passado dia 13 em
Paris.
Começando pelo
anúncio do estado de guerra, prontamente feito por François Hollande ao mesmo
tempo que anunciava a «França
em estado de emergência até 25 de Fevereiro», continuando com a reacção
interna (visando a localização e captura doutros envolvidos nos atentados) e
externa (intensificação das missões aéreas sobre as áreas controladas pelo
Daesh) e a simultânea manifestação da intenção de concertação franco-russa no
combate ao terrorismo, somaram-se os indícios duma nova atitude, mesmo quando o
ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, assegura que a «Rússia cooperará
com coligação contra o EI se soberania da Síria for respeitada».
Essa nova
atitude parece particularmente assumida pelo líder russo quando na Cimeira do
G20, que teve lugar na Turquia nesse mesmo fim-de-semana, disse alto e bom som
aquilo que sendo sobejamente conhecido poucas vezes é afirmado pelos principais
dirigentes mundiais. Aproveitando a onda dos acontecimentos «Putin
revela que países do G20 financiam o Estado Islâmico», pelo que talvez
agora seja de esperar que alguma coisa realmente mude na abordagem dum problema
que não é de natureza religiosa, nem apenas militar.
Combater o extremismo do Daesh passará por outro tipo
de acções de natureza diplomática que obriguem governos como o saudita e o
qatari a pôr cobro às facilidades de que os agentes financiadores e de
propaganda têm beneficiado, algo que não será fácil para quem disputa a
hegemonia local com o Irão e a Turquia e que beneficia, desde longa data do
apoio norte-americano.
Os EUA, que
constituem o quarto vértice deste triângulo assimétrico (Europa – Ásia – Médio
Oriente) estão, nesta conjuntura, na eminência de perder a posição privilegiada
que pareciam ter assegurado na sequência dos acordos nucleares como o Irão e na
inclusão da Turquia no esforço militar, por eles liderado, contra o sírio
al-Assad.
Não foram
poucas as vezes que aqui chamei a atenção para o dúplice papel de estados
árabes sunitas, como a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia, ou para os perigos
que envolviam a tentativa de deposição do regime alauita na Síria e para os
resultantes da morte do líbio Kadhafi, recentemente confirmadas (se ainda fosse
necessário) pela dúvida em saber se não será «A
Líbia, próximo território do Estado Islâmico?»
A aproximação
franco-russa não resolverá por si só todas as contradições que imperam no Médio
Oriente (uma das regiões mais instáveis do planeta), nem assegurará a
participação automática dos norte-americanos (a questão da
manutenção/afastamento de al-Assad continua a revelar-se profunda) mas
transmite um forte sinal do que poderá ser o futuro duma crise agravada pela
desastrosa actuação norte-americana no Afeganistão e no Iraque, onde a
explosiva mistura de voluntarismo com uma completa ignorância da realidade
político-religiosa da região criou as condições ideias para a germinação duma
cultura de preconceito e ódio do mais primário que existe.
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