domingo, 8 de novembro de 2015

A SITUAÇÃO POLÍTICA NACIONAL ARRASTA-SE…

As arrebatadas e quase messiânicas declarações que políticos e comentadores têm proferido nos últimos dias poderão levar ao mais incautos a acreditar que após a próxima semana nada será com foi…

Quando o executivo PSD/CDS, empossado por Cavaco Silva, se prepara para a obrigatória apresentação do seu programa, e depois de sabido que «Bloco de Esquerda fecha e aprova acordo com o PS» e depois que o «PCP anuncia que há acordo com o PS para Governo de Esquerda», confirmando a existência dum acordo entre os partidos políticos com assento parlamentar (PS, BE, PCP e PEV) para a formação dum executivo alternativo, que será expectável a rápida queda do segundo governo de Passos Coelho e Paulo Portas; o que ainda se ignora é o que se lhe seguirá e a grande dúvida reside na decisão que virá de Belém.


Ora o historial recente de clara submissão do primeiro magistrado da Nação aos interesses dos credores e o inesgotável beneplácito de que o duo Coelho-Portas (e restante leque de apoiantes) tem beneficiado, acrescido agora com a recente afirmação de que estará «Passos disposto a ficar à frente de um governo de gestão» (depois de, há imagem e semelhança do seu irrevogável parceiro, se ter anunciado o mesmíssimo «Passos Coelho decidido a liderar oposição»), introduz um não negligenciável grau de incerteza no resultado final.

Embora sempre tenha nutrido profundas dúvidas sobre as reais divergências entre PS e PSD e, ciente das profundas limitações que uma UE completamente enfeudada aos princípios neoliberais tenta impor aos seus membros, não alimente grandes expectativas duma real inversão da famigerada solução da austeridade-expansionista por um governo do PS, não posso deixar de esperar, com redobrado interesse, pelo desenrolar duma situação que a resolver-se com a manutenção dum governo de gestão desmascarará definitivamente os altos padrões democráticos daqueles que nos têm governado sob a invocação dos elevados valores nacionais e outras bacoquices úteis à prossecução dos seus interesses pessoais e de classe.

Infelizmente os problemas não terminam aqui. Caso a opção presidencial prime pelo pragmatismo (note-se: nunca pela convicção!) e venhamos a ver empossado um governo PS, ao qual não é irrealista pressagiar um fim prematuro, nada garante que, no plano europeu, este logre subverter em seu (nosso) benefício as draconianas regras europeias nem sequer que as consiga contornar um pouco, mas sempre poderá significar alguma melhoria nesse capítulo e, quiçá, alguma esperança de comecem a ser ouvidas as melhores e fundamentadas críticas a um modelo de globalização político-económica que mais não tem feito que assegurar o agravamento das desigualdades. Já no plano nacional é indispensável cultivar o máximo pragmatismo, evitando toda a confusão entre o desejável e o possível, e esperar que acordos e mentalidades contemplem a flexibilidade suficiente para acomodar os escolhos, nomeadamente os de natureza orçamental, que os aguardam.

Estarei a ser demasiado pessimista, ou apenas a confirmar o aforismo que assegura que um pessimista é apenas um optimista realista, mas nunca a ponto de afirmar que o país só é governável à direita; aliás os países nunca foram, nem serão ingovernáveis… o que se deve dizer é que os seus governantes (antigos, actuais ou a tal candidatos) se revelam invariavelmente incompetentes na prossecução dos princípios do interesse-geral.

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