As arrebatadas
e quase messiânicas declarações que políticos e comentadores têm proferido nos
últimos dias poderão levar ao mais incautos a acreditar que após a próxima
semana nada será com foi…
Quando o
executivo PSD/CDS, empossado por Cavaco Silva, se prepara para a obrigatória
apresentação do seu programa, e depois de sabido que «Bloco de Esquerda fecha e aprova acordo com o PS»
e depois que o «PCP anuncia que há acordo com o PS para Governo de
Esquerda», confirmando a existência dum
acordo entre os partidos políticos com assento parlamentar (PS, BE, PCP e PEV) para
a formação dum executivo alternativo, que será expectável a rápida queda do
segundo governo de Passos Coelho e Paulo Portas; o que ainda se ignora é o que
se lhe seguirá e a grande dúvida reside na decisão que virá de Belém.
Ora o
historial recente de clara submissão do primeiro magistrado da Nação aos
interesses dos credores e o inesgotável beneplácito de que o duo Coelho-Portas
(e restante leque de apoiantes) tem beneficiado, acrescido agora com a recente
afirmação de que estará «Passos
disposto a ficar à frente de um governo de gestão» (depois de, há imagem e
semelhança do seu irrevogável parceiro, se ter anunciado o mesmíssimo «Passos
Coelho decidido a liderar oposição»), introduz um não negligenciável grau
de incerteza no resultado final.
Embora sempre tenha nutrido profundas dúvidas
sobre as reais divergências entre PS e PSD e, ciente das profundas limitações
que uma UE completamente enfeudada aos princípios neoliberais tenta impor aos
seus membros, não alimente grandes expectativas duma real inversão da
famigerada solução da austeridade-expansionista por um governo do PS, não posso
deixar de esperar, com redobrado interesse, pelo desenrolar duma situação que a
resolver-se com a manutenção dum governo de gestão desmascarará definitivamente
os altos padrões democráticos daqueles que nos têm governado sob a invocação
dos elevados valores nacionais e outras bacoquices úteis à prossecução dos seus
interesses pessoais e de classe.
Infelizmente os problemas não terminam aqui.
Caso a opção presidencial prime pelo pragmatismo (note-se: nunca pela
convicção!) e venhamos a ver empossado um governo PS, ao qual não é irrealista
pressagiar um fim prematuro, nada garante que, no plano europeu, este logre
subverter em seu (nosso) benefício as draconianas regras europeias nem sequer
que as consiga contornar um pouco, mas sempre poderá significar alguma melhoria
nesse capítulo e, quiçá, alguma esperança de comecem a ser ouvidas as melhores
e fundamentadas críticas a um modelo de globalização político-económica que
mais não tem feito que assegurar o agravamento das desigualdades. Já no plano
nacional é indispensável cultivar o máximo pragmatismo, evitando toda a
confusão entre o desejável e o possível, e esperar que acordos e mentalidades
contemplem a flexibilidade suficiente para acomodar os escolhos, nomeadamente
os de natureza orçamental, que os aguardam.
Estarei a ser demasiado pessimista, ou apenas
a confirmar o aforismo que assegura que um pessimista é apenas um optimista
realista, mas nunca a ponto de afirmar que o país só é governável à direita;
aliás os países nunca foram, nem serão ingovernáveis… o que se deve dizer é que
os seus governantes (antigos, actuais ou a tal candidatos) se revelam invariavelmente
incompetentes na prossecução dos princípios do interesse-geral.
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