Enquanto se mantém o impasse político resultante da aprovação duma moção de censura ao II
Governo Passos Coelho/Paulo Portas, vamos assistindo ao desfilar de visitantes
a Belém… e que visitantes!
Depois dos
protocolares parceiros sociais, ou seja sindicatos e associações patronais, e
saltando por cima do instituído Conselho de Estado (cuja consulta só seria
obrigatória em caso de dissolução do Parlamento, opção inviável nos primeiros
seis meses após a eleição legislativa ou nos últimos seis meses de mandato
presidencial) passámos aos mais distintos e relevantes representantes doutros
interesses; assim, caso dúvidas houvesse, o inquilino de Belém mostrou
claramente as sua preferências em termos de aconselhamento começando por ouvir
um conjunto de… banqueiros!
É verdade,
Cavaco Silva fez-se aconselhar pela mesmíssima plêiade de gestores de empresas
que têm sobrevivido à crise devido a substanciais empréstimos públicos, em
grande medida obtidos graças às enormes reduções no investimento público na
Saúde, na Educação e na Segurança Social. Não será pois difícil perceber em que
sentido aquele clube de grandes gestores terá ido “aconselhar” o principal
magistrado da Nação; eles que, a expensas da grande maioria dos cidadãos já fortemente
penalizados pelas reduções salariais e pelo aumento da carga fiscal têm
assegurado não apenas a sua manutenção como um desproporcionado leque de
vantagens, foram lembrar a necessidade de “honrar compromissos”, expressão que
em “banquês” significa receberem todos os juros até ao último cêntimo e garantir
toda a disponibilidade necessária para os resgatar sempre que preciso.
Esta talvez
bizarra escolha de fontes de aconselhamento, sê-lo-á menos para quem ainda pense
que, para todos os efeitos, não podemos prescindir do sistema financeiro, mas o
grupo seguinte de “conselheiros” não pode deixar de aumentar a suspeição sobre
a isenção e a imparcialidade da figura presidencial. Aos banqueiros seguiu-se
um naipe de prestigiados economistas, capitaneados pelo Governador do Banco de
Portugal. Não fosse a gravidade da situação e quase me apetecia lembrar os
tradicionais cartazes tauromáquicos e anunciar a presença de 7 magníficos
economistas (Vítor Bento, Daniel Bessa, João Salgueiro, Luís Campos e Cunha,
Teixeira dos Santos, Bagão Félix e Augusto Mateus) 7, capitaneados por Carlos
Costa.
Que irão estes
insignes ex-governantes acrescentar de nova informação ao não menos insigne
colega que ainda ocupa a cadeira presidencial? Algum terá o discernimento para
lembrar que as opções que têm tomado, longe de resolverem os problemas, parecem
agravar ainda mais a situação? ou que para grandes crises (e a que o Mundo em
geral e a Europa em particular vivem, mais que uma crise global é uma crise
sistémica) há por vezes necessidade de romper com os modelos tradicionais de
pensamento?
Constatando
que todos passaram pelo governo e representam uma corrente de pensamento comum,
algum terá sequer a ousadia de contribuir com uma dúvida sistémica junto do
homem que nunca tem dúvidas e raramente se engana? Se não, para servirão os
seus conselhos?
Nesta linha de
pensamento, quando nem conselheiros nem aconselhado correm o menor risco de ver
beliscadas as suas benesses, entende-se perfeitamente ouvir-se dizer que «Cavaco
Silva não vê na crise política motivo
para preocupações»; eles sabem perfeitamente que as preocupações
sobrarão para todos os outros.
E embora já se
tenha noticiado que «Cavaco
Silva acelera audições e chama todos os partidos» para reuniões a realizar
amanhã, estou em crer que ainda haverá mais auscultações…
…estranham????
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