quinta-feira, 19 de novembro de 2015

AS AUSCULTAÇÕES PRESIDENCIAIS

Enquanto se mantém o impasse político resultante da aprovação duma moção de censura ao II Governo Passos Coelho/Paulo Portas, vamos assistindo ao desfilar de visitantes a Belém… e que visitantes!

Depois dos protocolares parceiros sociais, ou seja sindicatos e associações patronais, e saltando por cima do instituído Conselho de Estado (cuja consulta só seria obrigatória em caso de dissolução do Parlamento, opção inviável nos primeiros seis meses após a eleição legislativa ou nos últimos seis meses de mandato presidencial) passámos aos mais distintos e relevantes representantes doutros interesses; assim, caso dúvidas houvesse, o inquilino de Belém mostrou claramente as sua preferências em termos de aconselhamento começando por ouvir um conjunto de… banqueiros!

É verdade, Cavaco Silva fez-se aconselhar pela mesmíssima plêiade de gestores de empresas que têm sobrevivido à crise devido a substanciais empréstimos públicos, em grande medida obtidos graças às enormes reduções no investimento público na Saúde, na Educação e na Segurança Social. Não será pois difícil perceber em que sentido aquele clube de grandes gestores terá ido “aconselhar” o principal magistrado da Nação; eles que, a expensas da grande maioria dos cidadãos já fortemente penalizados pelas reduções salariais e pelo aumento da carga fiscal têm assegurado não apenas a sua manutenção como um desproporcionado leque de vantagens, foram lembrar a necessidade de “honrar compromissos”, expressão que em “banquês” significa receberem todos os juros até ao último cêntimo e garantir toda a disponibilidade necessária para os resgatar sempre que preciso.

Esta talvez bizarra escolha de fontes de aconselhamento, sê-lo-á menos para quem ainda pense que, para todos os efeitos, não podemos prescindir do sistema financeiro, mas o grupo seguinte de “conselheiros” não pode deixar de aumentar a suspeição sobre a isenção e a imparcialidade da figura presidencial. Aos banqueiros seguiu-se um naipe de prestigiados economistas, capitaneados pelo Governador do Banco de Portugal. Não fosse a gravidade da situação e quase me apetecia lembrar os tradicionais cartazes tauromáquicos e anunciar a presença de 7 magníficos economistas (Vítor Bento, Daniel Bessa, João Salgueiro, Luís Campos e Cunha, Teixeira dos Santos, Bagão Félix e Augusto Mateus) 7, capitaneados por Carlos Costa.

Que irão estes insignes ex-governantes acrescentar de nova informação ao não menos insigne colega que ainda ocupa a cadeira presidencial? Algum terá o discernimento para lembrar que as opções que têm tomado, longe de resolverem os problemas, parecem agravar ainda mais a situação? ou que para grandes crises (e a que o Mundo em geral e a Europa em particular vivem, mais que uma crise global é uma crise sistémica) há por vezes necessidade de romper com os modelos tradicionais de pensamento?

Constatando que todos passaram pelo governo e representam uma corrente de pensamento comum, algum terá sequer a ousadia de contribuir com uma dúvida sistémica junto do homem que nunca tem dúvidas e raramente se engana? Se não, para servirão os seus conselhos?

Nesta linha de pensamento, quando nem conselheiros nem aconselhado correm o menor risco de ver beliscadas as suas benesses, entende-se perfeitamente ouvir-se dizer que  «Cavaco Silva não vê na crise política motivo para preocupações»; eles sabem perfeitamente que as preocupações sobrarão para todos os outros.

E embora já se tenha noticiado que «Cavaco Silva acelera audições e chama todos os partidos» para reuniões a realizar amanhã, estou em crer que ainda haverá mais auscultações…


…estranham????

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