Da observação das capas dos diários nacionais hoje
publicados, dificilmente alguém diria que se debate na Assembleia da República
o programa do segundo governo do duo Passos Coelho-Paulo Portas.
E não é, num
caso ou noutro, a ausência de imagens, antes as persistentes referências ao PS
ou “à esquerda” no lugar do assunto em debate: o programa do governo PSD-CDS.
No final
talvez a melhor referência à questão seja a que encontramos no PUBLICO, quando este a apresenta como a «Direita
vestida de oposição, Esquerda em posse de Governo», traduzindo afinal a
ideia que este foi um governo de frete, que se sabia vencido à partida e que,
como o anterior, tendo uma liderança que desperdiçou as oportunidades de
temperança e concertação em benefício da prepotência e da defesa de interesses
específicos, não reunia condições efectivas para agora receber o benefício de
qualquer dúvida, mesmo quando Passos Coelho tenta recuperar a perdida imagem do
reformador que derrubou um governo (o segundo governo de Sócrates) por se opor
ao excesso de austeridade que este pretendia aplicar (o PEC IV), dizendo agora
que «"A
austeridade nunca foi uma questão de escolha, mas sim uma necessidade"»,
acreditando talvez que já todos esquecemos quando, nos dias gloriosos da
chegada a S. Bento, afirmou que «era
essencial ir além do plano da troika».
Aliás, o assunto
parece tão penoso para as redacções dos jornais que depois de passarem semanas
a dar espaço e voz aos habituais panegiristas do PSD e do CDS que propalaram
até à exaustão, sem pejo nem peias, diatribes como a de que no lugar de
eleições parlamentares o que existe é uma eleição do governo… ou a de que nunca
se viu a oposição não aceitar um programa de governo… (como se na vida
quotidiana nada pudesse mudar, nem haja espaço para outras formas de pensar que
não a sua), recuperam agora o tom catastrófico, prometendo todo tipo de
catástrofes.
É claro para
os mais avisados, como hoje mesmo
escreveu José Vítor Malheiros nas páginas do PUBLICO, que «Sabemos que os tempos que se
avizinham serão difíceis. Um governo que defenda estes princípios será atacado
por todos os interesses, por todos os privilegiados de todos os privilégios,
por todos os preconceitos, por todos os rancores»,
como «Sabemos que a honra é mais forte
que a ignomínia. Que a dignidade é mais forte que a subserviência. Que a
liberdade é mais forte que a submissão» e é por isso que mesmo frágil e
ténue a esperança é a última a morrer…
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