A questão dos
milhares de refugiados que procuram alcançar a Europa continua um tema quente
da actualidade, não apenas pela dimensão do drama mas também por muitas
polémicas que em seu torno têm surgido.
Desde as
reacções mais primárias até outras mais reflectidas e sustentadas, muito
continua a dizer-se e a escrever-se sobre o tema, avultando as dúvidas e os
receios relativamente ao que achamos estranho ou diferente, nem sempre
dissipadas nem quando se denunciam os «Seis
mitos sobre os refugiados».
Além do
natural receio da possível infiltração dos refugiados por radicais islâmicos e
da aparente contradição entre a pobreza dos refugiados e os custos da fuga, uma
das questões muitas vezes levantadas pelos mais críticos ao acolhimento dos
refugiados é a que se prende com a falta de solidariedade dos estados árabes
vizinhos do Iraque e da Síria, esquecendo que o «Número
de refugiados no Líbano ultrapassa um milhão», que a também vizinha
Jordânia já terá colhido mais de 600 mil enquanto a Turquia já regista um
número próximo dos dois milhões.
Aquela
afirmação será particularmente verdadeira para os casos da Arábia Saudita e dos
Emiratos Árabes e resultará de várias ordens de razões. A primeira será
indubitavelmente o facto das monarquias reinantes naqueles territórios nada
fazerem para acolher ou incentivar a vinda dos refugiados, enquanto a segunda
tem origem nos próprios refugiados ou na sua manifesta preferência por outros
territórios.
Esta opção
radica em primeira instância nas origens profundas da divisão entre muçulmanos
sunitas e xiitas. A generalidade das facções que se opõem ao regime sírio (maioritariamente
alauita) é de matriz sunita, tem encontrado na Arábia Saudita e nos Emiratos
Árabes Unidos os principais financiadores; sendo também esta a origem do
wahabismo (movimento radical sunita que é apontado como a origem doutros
movimento como a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaeda e o Daesh, ou ISIS), é natural
que os grupos que se sentem por eles perseguidos (como os drusos e os cristãos,
além do alauitas) procure evitar as regiões onde são dominantes.
Outro factor
não displicente é a propaganda sobre as “maravilhas e a superioridade do
Ocidente” que há várias décadas vem sendo instilada entre as gerações árabes
mais jovens, tornando os países ocidentais em alvo de apetecível desejo, a par
com o efeito devastador que tiveram as invasões do Afeganistão e do Iraque.
É por tudo
isto que são tão condenáveis as posições dos que na Europa reagem contra os
refugiados como as dos que no interior da própria nação árabe criam clivagens
mais sustentadas no dogmatismo que na racionalidade do respeito pelos
semelhantes, incluindo os que pensam de forma diversa.
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