Têm abundado,
nos últimos dias, as notícias e as imagens associadas aos dramas de milhares de
refugiados que procuram alcançar a Europa. A avalanche de pessoas é tal que o
problema está realmente a transformar-se num drama, quer para os directamente
envolvidos quer para os governos europeus.
A última gota
foram as imagens da criança afogada que deu à costa na Grécia; este jovem curdo,
de nacionalidade iraquiana, foi apenas mais uma dos milhares de vidas perdidas
num jogo inominável.
São naturais e
compreensíveis os anseios daqueles que fugindo da guerra, da fome ou apenas da
miséria generalizada, procuram em paragens que julgam mais auspícias um futuro
melhor, como o são os receios expressos pelos cidadãos europeus,
insensibilizados por uma austeridade irracional que ameaça prolongar-se ad nauseam.
Receios que as
elites dirigentes não conseguem (e talvez nem queiram) refutar tal é a sua
responsabilidade, tanto na situação que os seus nacionais vivem como naquelas
que originaram este fluxo migratório, pois importa não esquecer que a raiz dos
problemas que levaram milhares a procurarem outras paragens não é recente e
radica nas guerras fomentadas, ou até impostas, nas suas regiões de origem
(Afeganistão, Iraque e Síria), na quase completa ausência de estruturas
económicas que sustentem as populações (quer as de origem climática, como a
seca no Sahel, quer as originadas por governos cleptocratas) e no
recrudescimento das perseguições baseadas em fanatismos religiosos.
Todas estas
situações poderiam ter sido evitadas com a aplicação das adequadas políticas de
desenvolvimento local, através da utilização de recursos em investimentos
produtivos, em lugar da sua canalização para actividades meramente
especulativas, e o fomento de boas práticas governativas, em detrimento do
tradicional apoio a oligarquias permissivas e facilitadoras dos interesses ocidentais.
Agora, com
vastas regiões empobrecidas por guerras e outras calamidades, restará à Europa definir
um plano para lidar com uma situação para a qual muito contribuiu (com especial
destaque para o apoio inglês às invasões norte-americanas do Afeganistão e do
Iraque), plano que deveria passar pela organização dos fluxos nos países de
origem (processo especialmente indicado para minimizar os fundados receios do
seu aproveitamento pelos grupos jihadistas
e contrariar a propaganda dos movimentos xenófobos europeus), pela criação de
canais e rotas oficiais para os movimentos migratórios e envolvendo os governos
dos países de origem e dos países limítrofes, quer no processo de regulação
quer na integração dos refugiados.
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