Começa a ser
insuportável ouvir o arrazoado em que os políticos do arco do poder (e os
jornalistas que os comentam e deles fazem notícia) estão a transformar a
narrativa da “vinda da troika” e toda
a campanha eleitoral.
Insistindo
naquela tónica, Passos Coelho, António Costa e respectivas entourages mais não fazem que ocupar tempo de antena, criar ruído e
distrair os eleitores das questões essenciais. A título de exemplo vejam-se as
notícias publicadas pelo NEGÓCIOS, onde, seguindo aquela
onde divulgam que «Passos Coelho prometeu a Sócrates apoio à
vinda da troika em 2011», se destacam
declarações de políticos onde «Portas cita Soares sobre quem chamou troika e
diz que PS está "em negação"» ou a afirmação que «Passos não apoiou vinda da troika, apenas deu
o "apoio da oposição para evitar o precipício"», quando o
que realmente deveria estar a preocupá-los e ser transformado em objecto de
análises e comentários eram as conclusões dum estudo publicado pelo BCE segundo
o qual «Portugal foi dos países onde o impacto na
dívida pública das ajudas à banca foi maior».
Só os muito
distraídos (ou os partidários ferrenhos) é que ainda não perceberam (ou não
querem sequer tentar perceber) que todos os partidos do arco do poder (PSD, CDS
e PS) têm idênticas responsabilidades na matéria e que nenhum sairá incólume da
acareação que os eleitores já fizeram e a História contará.
As próprias
análises que apresentam sobre o panorama nacional carecem de veracidade factual
e são invariavelmente distorcidas em função dos objectivos de quem as veicula.
A situação nacional é invariavelmente apresentada como responsabilidade do
passado – no caso presente a mistificação da coligação PAF atinge o despudor de
escamotear a degradação das condições de vida que eles próprios determinaram
com as suas opções governativas (quando «Passos defende que estratégia do Governo deu
frutos e pede estabilidade» ou quando «Portas pede para não confiarem em promessas
que "já deram para o torto"»),
enquanto o PS embarca no facilitismo da promessa quando «António Costa promete aos empresários mais
estabilidade e menos confrontação» – e a
dura realidade do País e dos Cidadãos parece algo longínquo ou mesmo
inexistente.
Uns e outros
escolheram a solução mais simples para voltar a ensaiar a usual estratégia da
mistificação eleitoral. Enquanto trocam acusações mútuas vão deixando correr o
tempo e silenciando a informação que realmente deveriam estar a disponibilizar
aos eleitores. Como tencionam enfrentar os problemas que criaram (por acção ou
omissão) nas últimas décadas? Como recuperar uma economia enfeudada a
mecanismos rentistas, secularmente dirigida por empresários subsídio-dependentes
e descapitalizados?
Quando a
conjuntura global pouco ou nada promete de construtivo (veja-se a ânsia com que
classe empresarial alemã se prepara apara acolher os refugidos do Médio Oriente
e transformá-los em mais um argumento para a redução de salários e regalias
sociais, bem expressa nas recentes declarações do presidente do Bundesbank, Jens Weidman, de que a «Alemanha necessita de refugiados para manter
o nível de bem-estar»), como pensam
fazer evoluir uma economia terciarizada, sem indústrias de base nem tecnológicas,
com uma agricultura sem unidades produtivas bem dimensionadas e um sector
pesqueiro destruído pela corrida aos subsídios da UE?
Como se tudo
isto não constituísse já problemas suficientes – e suficientemente espinhosos –
estamos ainda perante a perspectiva do voltar a entregar aos artífices do
descalabro (os tais do arco do poder) a condução dos destinos dum País que
apresenta cada vez menos condições naturais (envelhecimento da população e
emigração dos mais jovens) para ultrapassar os desafios que se lhe colocam.
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