Muito
comentado na blogosfera, mas quase ignorado nos meios de comunicação nacionais
(as excepções que encontrei foram este artigo
do I e um artigo
de opinião de Rui Tavares no PUBLICO), foi a acusação formulada por um
tribunal luxemburguês contra um cidadão francês pela divulgação de informação
sobre o sistema de acordos para-fiscais firmados entre o governo luxemburguês e
um elevado número de multinacionais.
Este “affaire”, popularizado sob a designação
de LuxLeaks (em clara homenagem ao WikiLeaks) tem no seu centro uma personagem
bem conhecida dos cidadãos europeus: Jean-Claude Juncker, o actual presidente
da Comissão Europeia, que durante anos foi primeiro-ministro e ministro das
finanças do Luxemburgo.
A ignomínia da
acusação contra um cidadão que denunciou a existência dum esquema altamente
lesivo dos contribuintes comunitários, patrocinado por um dirigente que ajudou
a impor condições draconianas aos pequenos estados para cujo desequilíbrio
financeiro contribuiu activamente, é apenas o resultado dum generalizado
sentimento de impunidade que grassa entre as oligarquias económicas e
políticas. Tudo isto possível graças às políticas de terror – redução de
salários e pensões, cortes nas despesas sociais com saúde e educação,
aniquilação do Estado Social, etc. – implementadas a pretexto da
indispensabilidade do reequilíbrio das finanças públicas que foram depauperadas
e esbulhadas de receitas em benefício das grandes empresas e dos lucros dos
seus accionistas.
Louvar o
espírito de cidadania de Antoine Deltour – um jovem que passou uma temporada a
trabalhar na PricewaterhouseCoopers
(provavelmente num estágio mal remunerado e desprovido de quaisquer
perspectivas de futuro), uma das quatro
grandes empresas de consultoria e auditoria do mundo especializadas na
prestação de serviços de planeamento fiscal agressivo (o eufemismo que designa
o recurso a todo o tipo de subterfúgios para minimizar a imposição fiscal das
grandes empresas) – e fomentar todo o tipo de manifestação de repúdio contra a
sua acusação será o pouco que resta aos cidadãos minimamente
íntegros, mesmo sabendo que as hipóteses de sucesso serão remotas.
Sem comentários:
Enviar um comentário