A notícia de
que um recente «Ataque talibã a
escola em Peshawar deixa 141 mortos e um país em choque» correu
célere e chocou a opinião pública mundial. Outro título refere que «Ataque talibã a
escola deixa Paquistão de luto e indigna o Mundo», mas mais
correcto, porque mais consentâneo com a realidade local, é afirmar que «Massacre
talibã em escola militar no Paquistão faz pelo menos 141 mortos, a maioria
crianças».
Sem esquecer a
barbaridade que se traduz na morte gratuita de mais duma centena de jovens
(mortes que as notícias não esclarecem se ocorreram apenas por intervenção dos
atacantes ou também em consequência do fogo cruzado quando o exército
paquistanês reocupou o controlo das instalações), importa inserir o atentado na
intrincada conjuntura paquistanesa, facto que não foi esquecido na
reivindicação do ataque pelo grupo Tehreek-e-Taliban Pakistan (Movimento
Taliban do Paquistão), quando explicou que visou atingir o Exército, que
responsabiliza pela morte de familiares dos talibans, no seu ponto mais frágil.
A ideia que
este atentado, pensado para deixar uma mensagem forte ao governo de Nawaz Sharif,
poderá constituir uma oportunidade para a aproximação entre as facções que
oscilam entre o apoio e a contestação ao movimento taliban e, quiçá, um passo
importante para a sua erradicação, talvez não resista a uma observação mais
atenta da realidade paquistanesa. Recordar que o país resultou duma divisão com
uma Índia maioritariamente não-muçulmana e com a qual não aceitou conviver, que
desde a sua fundação sempre elegeu este vizinho como “origem de todos os seus
males” e que tem tido no Exército a origem de grande número dos seus governantes,
ajudará a compreender o porquê da difícil relação que há muito mantém com o
movimento taliban,que teve na sua génese um forte apoio dos EUA.
A sua
vizinhança com o Irão e o Afeganistão, em resultado da ascensão do regime
iraniano dos ayatollahs e da invasões soviética e americana do Afeganistão, colocou-o
na área de influência (e dos interesses) dos EUA, factor que terá reforçado
ainda mais a animosidade com uma Índia que persistia numa certa forma de
não-alinhamento e reforçado o papel e a importância duma estrutura militar
formada e equipada a partir do EUA.
A ambivalência no seu relacionamento com o fragmentado Afeganistão
(território que não deixa de querer influenciar através do seu apoio aos
talibans) e com a Índia (país com o qual além da mal resolvida separação em
1947 mantém uma “corrida” ao armamento nuclear) não deverá ficar aplacada nem
agora quando, Narendra Modi, o «PM
indiano critica "cobarde ataque terrorista" contra escola no
Paquistão», tão profundas são as dissensões entre paquistaneses e indianos.
Mesmo quando nos dois estados pontificam governos conservadores permanecem
evidentes as diferenças religiosas (no Paquistão pontifica um partido muçulmano
enquanto a Índia é dirigida por um partido de matriz nacionalista hindu) e uma
animosidade que nem o facto de ambos os países disporem de armamento nuclear
tem atenuado.
Envolvido num complicado jogo de interesses regionais e internacionais,
muitas vezes percepcionado como apoiante pouco discreto dos talibans e outras
tantas apontado como importante vector no combate a esses mesmos extremistas,
atormentado pelo ancestral receio da vizinha Índia e com uma classe dirigente
permanentemente sob suspeitas de corrupção e nepotismo, o Paquistão não logrará
resolver com eficácia o problema do extremismo islâmico com iniciativas
desgarradas – como o pronto anúncio de que vai
acabar com moratória da pena de morte para casos de terrorismo – nem
enquanto não resolver definitivamente a sobrevalorização dos militares na vida
política e não normalizar as suas relações com a Índia.
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