sábado, 27 de dezembro de 2014

E PUR SI MUOVE!

Passados tantos meses a vituperar o governo Passo Coelho/Portas e a sua subserviência aos ditames da “troika” parece que teremos hoje de reconhecer que afinal não terá faltado o brio nem o patriotismo de os vermos resistir (ainda e sempre) ao “invasor”; pelo menos é o que se poderia inferir da notícia que «Passados seis meses, Bruxelas está desiludida com o Governo».

A situação será tanto mais merecedora de destaque (e de evidente congratulação nacional) quanto é já conhecido que «Bruxelas queixa-se de falta de colaboração do Governo durante a última avaliação», claro sinal de que afinal a prosápia de Paulo Portas sobre o “protectorado” e a “recuperação da independência” não eram palavras vãs, nem a mais recente iniciativa para a  reinstituição do feriado do 1º de Dezembro (a data que, no longínquo ano de 1640, assinalou o fim da hegemonia espanhola e a restauração da independência) uma simples manobra eleitoral.

Tal como no século XVII, quando Galileu se viu forçado pela Inquisição a renegar a sua teoria heliocêntrica lá terá murmurado entre dentes “e pur si muove”, também agora os nossos convictos governantes sempre foram resistindo às mais hediondas medidas contra os interesses nacionais que foram obrigados a implementar. Não tardará muito a saber-se que foi contra a sua vontade que foram cortadas as reformas dos pensionistas, os salários dos trabalhadores da função pública e do sector empresarial do Estado (tanto mais que idêntico procedimento sobre os vencimentos dos administradores foi liminarmente recusado), que foram reduzidas as verbas para o ensino, a saúde e a segurança social, que foi sob o mais vivo protesto que Vítor Gaspar deu início ao mais brutal dos aumentos de impostos ou que foram vendidas empresas públicas rentáveis como a ANA e os CTT, ou simplesmente estratégicas como a EDP e a REN.


Bem diz o Povo que a verdade é como o azeite e não tardará que aos impolutos defensores do bem público e do interesse geral que nos têm governado venha a ser reconhecido um estatuto idêntico ao de todos os bravos patriotas que ao longo de séculos verteram suor e sangue na defesa dos interesses da Pátria (não recordo já onde li isto, pelo que não refiro a origem da citação) e assim dentro em pouco veremos um Passos Coelho comparado àquele alferes quinhentista que defendeu a bandeira com os dentes, Vítor Gaspar e a Srª Swapp comparados ao soldado milhões e, por último, o irrevogável Paulo Portas comparado ao indefectível Martin Moniz, ou não estivesse ele sempre disponível para se deixar trucidar entre os seus próprios batentes.

Camões cantou um dia a Pátria que tão ditosos filhos tinha; fora hoje e não pouparia laudatórios a tão probas personagens que seguramente augurarão muitos e ditosos anos às gerações actuais e às vindouras, se para tanto lhes dermos o espaço e o tempo…

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