sábado, 13 de dezembro de 2014

...IDEIAS POUCAS

Não é habitual que a humildade e a capacidade de reconhecer os erros cometidos (com a consequente inversão de estratégias) seja apanágio dos líderes que nos têm calhado em sorte, pelo que ninguém estranhará verdadeiramente que a sua a incapacidade de ouvir e entender as críticas seja regularmente confundida como convicção, persistência ou até resiliência; jamais teimosia, mera impreparação ou pura incapacidade e nunca associada à verdadeira origem da desadequação para a tomada de decisões.


Não se estranhe pois que Passos Coelho tenha afirmado recentemente que «Apesar da crise, "quem se lixou não foi o mexilhão"». Incapazes, como se têm revelado, de entenderem a situação do País que pretendem governar, da UE que asseguram querer acompanhar e do Mundo que os rodeia, os nossos dirigentes desdobram-se em declarações tão desajustadas quanto irrealistas enquanto repetem os inevitáveis mantras da eficácia dos mercados (leia-se: a submissão aos interesses financeiros), da superioridade da iniciativa privada (leia-se: a aceitação do sacrossanto princípio do lucro pessoal a expensas do interesse geral) e da maravilha que é o seu mundo ideal.

Para quem, como eles, elegeu uma solução baseada no dogma do equilíbrio financeiro a qualquer custo e no empobrecimento generalizado (que não total, pois em meados deste ano foi notícia um estudo do BCE segundo o qual «Um quarto da riqueza de Portugal está nas mãos de 1% da população», valor que assume contornos bem mais definidos quando clarifica que «[e]ntre os nove países da zona euro analisados, Portugal é o terceiro país com uma maior concentração da riqueza, apenas atrás das Áustria e da Alemanha») não se estranha a limitação ao entendimento das críticas; assim, auto-congratulam-se e exibem duvidosas afirmações, como a de que a «Taxa de desemprego recua para 13,1%», mesmo quando o próprio Banco de Portugal admite, cautelosamente, que a «Economia está a criar menos emprego do que diz o INE».

Só um completo vazio de ideias, associado ao dogmatismo ordoliberal, pode justificar que o mesmo Passos Coelho tenha afirmado recentemente que «"Não há esquerda nem direita, há bom governo e mau governo"», como se a formulação de opções políticas se resumisse a um credo único e à obediência cega em postulados de duvidosa consistência técnica e clara refutação prática, como o da disciplina orçamental. Na incapacidade de elucubrar qualquer réstia de pensamento próprio ou de formular outra argumentação salvo a que assenta na crendice, toma-se a parte pelo todo e recua-se aos tempos da medieva panaceia para todos os males.

Quem se revela incapaz de formular ou sequer entender outra argumentação, agarra-se, agora como então, à receita que levou a sangrar até à morte milhões de pacientes, com a diferença que a existência na actualidade de melhores e mais rápidas formas de difusão da informação e das ideias conduz à rápida denúncia deste tipo de estreiteza de pensamento, que apenas a surdez intelectual os impede de entender.

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