Não terá
havido hoje órgão de comunicação que não noticiasse que «Portugal
coloca dívida a dez anos com juros historicamente baixos», facto
prontamente aproveitado pelo Primeiro-ministro Passos Coelho para apregoar que
a «Emissão de dívida a dez anos dá «bastante confiança
para o futuro»».
Noutro
enquadramento dizia o NEGÓCIOS
que «Portugal
paga juro de 3,592% no regresso aos leilões a 10 anos», depois de na
véspera ter colocado o problema numa perspectiva mais correcta quando lembrou
que «Juros portugueses caem antes de primeiro
leilão sem ajuda de bancos».
Já o ECONÓMICO foi ainda mais específico ao
assegurar que «Portugal
coloca dívida a dez anos com o juro mais baixo desde 2005», afirmação que
merece melhor atenção por reflectir o absurdo que envolve os meandros dos
mercados financeiros. Se não vejamos: quando é cada vez mais evidente o aumento
sofrido pela dívida pública portuguesa desde a aplicação do PAEF (em Fevereiro
escrevia o EXPRESSO que «Dívida total de Portugal cresceu 84,3 mil milhões de
euros desde 2009»), a contracção
do PIB e o nível alarmante do desemprego (não esqueçamos que a anunciada
descida da taxa de desemprego, entre Outubro e Dezembro de 2013, para 15,3%
deverá significar, depois de descontado o subemprego, a emigração e os que
simplesmente deixaram de procurar trabalho, uma «Taxa
de desemprego real nos 24%»), quais os verdadeiros
motivos para esta situação?
Estará, como
pretendem os apólogos da “austeridade expansionista”, a frutificar a política
de ajustamento – centrada nas reduções de salários e pensões e no aumento da
carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho, como o atesta a notícia de que «Portugal
foi o país que mais "carregou" nos impostos sobre salários» – ou pelo contrário,
este resultado é consequência do clima geral de descida das taxas de juro que
já em meados de Janeiro levara o
ECONÓMICO
a afirmar que os «Juros
portugueses caem para mínimos de três anos e meio»?
Em resumo:
será a solidez da depauperada economia nacional a justificar a descida das
taxas ou antes, como reconhecerá quem quiser analisar friamente o problema, o
excesso de liquidez mundial e a inevitável procura de rentabilidade (o capital
não medra sem a cobrança de juros) que estará na origem deste “milagre”?
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