quarta-feira, 23 de abril de 2014

CONFIANÇA?

Não terá havido hoje órgão de comunicação que não noticiasse que «Portugal coloca dívida a dez anos com juros historicamente baixos», facto prontamente aproveitado pelo Primeiro-ministro Passos Coelho para apregoar que a «Emissão de dívida a dez anos dá «bastante confiança para o futuro»».


Noutro enquadramento dizia o NEGÓCIOS que «Portugal paga juro de 3,592% no regresso aos leilões a 10 anos», depois de na véspera ter colocado o problema numa perspectiva mais correcta quando lembrou que «Juros portugueses caem antes de primeiro leilão sem ajuda de bancos».

Já o ECONÓMICO foi ainda mais específico ao assegurar que «Portugal coloca dívida a dez anos com o juro mais baixo desde 2005», afirmação que merece melhor atenção por reflectir o absurdo que envolve os meandros dos mercados financeiros. Se não vejamos: quando é cada vez mais evidente o aumento sofrido pela dívida pública portuguesa desde a aplicação do PAEF (em Fevereiro escrevia o EXPRESSO que «Dívida total de Portugal cresceu 84,3 mil milhões de euros desde 2009»), a contracção do PIB e o nível alarmante do desemprego (não esqueçamos que a anunciada descida da taxa de desemprego, entre Outubro e Dezembro de 2013, para 15,3% deverá significar, depois de descontado o subemprego, a emigração e os que simplesmente deixaram de procurar trabalho, uma «Taxa de desemprego real nos 24%»), quais os verdadeiros motivos para esta situação?

Estará, como pretendem os apólogos da “austeridade expansionista”, a frutificar a política de ajustamento – centrada nas reduções de salários e pensões e no aumento da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho, como o atesta a notícia de que «Portugal foi o país que mais "carregou" nos impostos sobre salários» ou pelo contrário, este resultado é consequência do clima geral de descida das taxas de juro que já em meados de Janeiro levara o ECONÓMICO a afirmar que os «Juros portugueses caem para mínimos de três anos e meio»?

Em resumo: será a solidez da depauperada economia nacional a justificar a descida das taxas ou antes, como reconhecerá quem quiser analisar friamente o problema, o excesso de liquidez mundial e a inevitável procura de rentabilidade (o capital não medra sem a cobrança de juros) que estará na origem deste “milagre”?

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