segunda-feira, 9 de setembro de 2013

PRONTO PARA SALTAR - I


Enquanto se aguarda a conclusão das últimas formalidades – a aprovação do Congresso – continuam-se, para os lados de Washington, os preparativos militares e anuncia-se que o «Plano de Obama para ataque à Síria começa com ofensiva mediática», mantendo completo silêncio sobre relatos que questionam a tese norte-americana.


Entre estes conta-se a publicação no sítio MINT PRESS NEWS dum artigo contendo entrevistas a médicos, rebeldes e moradores na zona atingida, assinado pelos jornalistas independentes Dale Gavlak e Yahya Ababneh.

A primeira referência que encontrei sobre este trabalho foi na página VOLTAIRE NET e enquanto localizava a fonte, confirmei-a no artigo «O interesse dos EUA na Síria» que Maria João Tomás assina no DN e onde a autora conclui «…este parece ser o timing certo para se decidir o futuro da Síria e reparti-lo pelas partes interessadas. Por isso se torna tão conveniente que os americanos intervenham para se assegurarem de que os russos e o Irão não ficarão com tanto poder como gostariam. Digamos que, estrategicamente, a altura é a ideal

Confirmada a relativa credibilidade dos dois “freelancers” – a primeira é de nacionalidade norte-americana e colaboradora regular da Associated Press e da BBC e o segundo é de nacionalidade jordana, foi o entrevistador no terreno e também colaborador de várias publicações, entre as quais a Associated Press – e pelo que contém de relativa novidade na imprensa nacional aqui deixo a tradução da primeira parte do artigo intitulado:


por Dale Gavlak and Yahya Ababneh

Ghouta, Síria —, Enquanto após o último ataque químico, ganha apoios a ideia duma intervenção militar norte-americana, pode bem suceder que estes e os seus aliados estejam a acusar os falsos responsáveis.

Isso é o que parecem indicar entrevistas realizadas em Damasco e em Ghouta, um subúrbio da capital síria, onde a ONG Médicos sem Fronteiras assegura que pelo menos 355 morreram na última semana no que se julga ter sido um ataque com um agente neurotóxico.

Americanos, ingleses, franceses e a Liga Árabe acusaram o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad de realizar ataques com armas químicas, tendo civis como principal alvo. Com navios de guerra norte-americanos estacionados no Mediterrâneo prontos para lançar ataques em represália pelo uso de armas químicas, americanos e aliados não parecem interessados em examinar indícios contraditórios, enquanto o secretário de Estado John Kerry afirma que a responsabilidade de Assad foi “claramentre julgada por toda agente”.

Porém, de entrevistas com médicos, rebeldes e as suas famílias residentes em Ghouta, emerge uma imagem diferente. Muitos crêem que os rebeldes receberam armas químicas através do chefe ddos serviços secretos sauditas, o príncipe Bandar bin Sultan, e foram os responsáveis pelo ataque mortífero.

“O meu filho perguntou-me há duas semanas se fazia ideia do tipo de armas que ele tinha sido encarregue de transportar,” disse Abu Abdel-Moneim, o pai dum combatente rebelde , que vive em Ghouta.

Abdel-Moneim disse que o seu filho e 12 outros rebeldes morreram no interior dum túnel usado para o armazenamento de armamento fornecido por um comandante saudita, conhecido como Abu Ayesha, e descreveu algumas armas como uma “estrutura de tipo tubular” enquanto outras pareciam grandes “botijas de gás.”

Habitantes de Ghouta disseram que os rebeldes usavam mesquitas e casas particulars para dormirem enquanto armazenavam o armamento em túneis.

Abdel-Moneim disse que o filho e os companheiros morreram durante o ataque com armas químicas. Nesse mesmo dia, o grupo Jabhat al-Nusra, ligado à al-Qaeda, anunciou que em represália atacaria civis em Latakia, na região ocidental controlada pelo regime sírio.

“Não nos disseram de que tipo de armas se tratava nem como usá-las,” queixou-se uma combatente chamada “K”. “Não sabíamos que eram armas químicas. Nunca imaginámos que fossem armas químicas”.

“Quando o príncipe Bandar fornece esse tipo de armas deve fazê-lo a quem saiba como manuseá-las e utilizá-las,” disse “K”, que como outros sírios não querem divulgar os nomes com receio de represálias.

Outro bem conhecido líder rebelde em Ghouta, chamado “J” concordou, acrescentando que “os militants do Jabhat al-Nusra não cooperam com os outros rebeldes no terreno, não partilham informação secreta, apenas usam os demais rebeldes para transportar e operar o material”.

“Estávamos muito curiosos sobre essas armas e infelizmente alguns dos combatentes manusearam-nas incorrectamente e provocaram as explosões,” disse ainda ‘J’.

Médicos que trataram as vítimas do ataque químico avisaram os jornalistas para serem cuidadosos nas questões sobre quem, ao certo, caberia a responsabilidade pelo ataque mortífero.
O grupo humanitário Médicos sem Fronteiras acrescentou que os socorristas que auxiliaram 3.600 doentes também se queixaram de sintomas idênticos, incluindo espumar pela boca, convulsões e problemas respiratórios e de visão, mas sem confirmação independente da informação.

Mais de uma dúzia de rebeldes entrevistados disseram que os seus salários são suportados pelo governo saudita

Confirmadas as fortes dúvidas sobre a pronta acusação formulada contra Bashar al-Assad – tão fortes que após saber-se a «Síria receptiva a proposta russa para a entrega de armas» químicas até já o secretário de Estado John «Kerry diz que Assad evitaria ataque se entregasse armas químicas» –, enquanto se aguardam novos desenvolvimentos e porque o teor da notícia vai muito além da mera questão a responsabilidade pelo uso de armas químicas, ligação saudita nele referida será objecto do próximo “post”.

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