Enquanto se aguarda a conclusão das últimas formalidades – a aprovação do
Congresso – continuam-se, para os lados de Washington, os preparativos militares
e anuncia-se que o «Plano
de Obama para ataque à Síria começa com ofensiva mediática», mantendo completo
silêncio sobre relatos que questionam a tese norte-americana.
Entre estes conta-se a publicação no sítio MINT PRESS NEWS dum artigo contendo
entrevistas a médicos, rebeldes e moradores na zona atingida, assinado pelos
jornalistas independentes Dale Gavlak e Yahya Ababneh.
A primeira referência que encontrei sobre este trabalho foi na página VOLTAIRE NET e enquanto localizava a
fonte, confirmei-a no artigo «O interesse dos EUA na Síria» que Maria João Tomás assina no DN e onde a autora conclui «…este parece ser o timing certo para se decidir o futuro da Síria e
reparti-lo pelas partes interessadas. Por isso se torna tão conveniente que os
americanos intervenham para se assegurarem de que os russos e o Irão não
ficarão com tanto poder como gostariam. Digamos que, estrategicamente, a altura
é a ideal.»
Confirmada a
relativa credibilidade dos dois “freelancers”
– a primeira é de nacionalidade norte-americana e colaboradora regular da
Associated Press e da BBC e o segundo é de nacionalidade jordana, foi o
entrevistador no terreno e também colaborador de várias publicações, entre as
quais a Associated Press – e pelo que contém de relativa novidade na imprensa
nacional aqui deixo a tradução da primeira parte do artigo intitulado:
por Dale Gavlak and Yahya Ababneh
Ghouta, Síria —, Enquanto após o último ataque
químico, ganha apoios a ideia duma intervenção militar norte-americana, pode
bem suceder que estes e os seus aliados estejam a acusar os falsos
responsáveis.
Isso é o que parecem indicar entrevistas
realizadas em Damasco e em Ghouta, um subúrbio da capital síria, onde a ONG
Médicos sem Fronteiras assegura que pelo menos 355 morreram na última semana no
que se julga ter sido um ataque com um agente neurotóxico.
Americanos, ingleses, franceses e a Liga Árabe
acusaram o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad de realizar ataques com
armas químicas, tendo civis como principal alvo. Com navios de guerra
norte-americanos estacionados no Mediterrâneo prontos para lançar ataques em
represália pelo uso de armas químicas, americanos e aliados não parecem
interessados em examinar indícios contraditórios, enquanto o secretário de
Estado John Kerry afirma que a responsabilidade de Assad foi “claramentre
julgada por toda agente”.
Porém, de entrevistas com médicos, rebeldes e
as suas famílias residentes em Ghouta, emerge uma imagem diferente. Muitos
crêem que os rebeldes receberam armas químicas através do chefe ddos serviços
secretos sauditas, o príncipe Bandar bin Sultan, e foram os responsáveis pelo
ataque mortífero.
“O meu filho perguntou-me há duas semanas se
fazia ideia do tipo de armas que ele tinha sido encarregue de transportar,”
disse Abu Abdel-Moneim, o pai dum combatente rebelde , que vive em Ghouta.
Abdel-Moneim disse que o seu filho e 12 outros
rebeldes morreram no interior dum túnel usado para o armazenamento de armamento
fornecido por um comandante saudita, conhecido como Abu Ayesha, e descreveu
algumas armas como uma “estrutura de tipo tubular” enquanto outras pareciam
grandes “botijas de gás.”
Habitantes de Ghouta disseram que os rebeldes
usavam mesquitas e casas particulars para dormirem enquanto armazenavam o
armamento em túneis.
Abdel-Moneim disse que o filho e os
companheiros morreram durante o ataque com armas químicas. Nesse mesmo dia, o
grupo Jabhat al-Nusra, ligado à al-Qaeda, anunciou que em
represália atacaria civis em Latakia, na região ocidental controlada pelo
regime sírio.
“Não nos disseram de que tipo de armas se
tratava nem como usá-las,” queixou-se uma combatente chamada “K”. “Não sabíamos
que eram armas químicas. Nunca imaginámos que fossem armas químicas”.
“Quando o príncipe Bandar fornece esse tipo de
armas deve fazê-lo a quem saiba como manuseá-las e utilizá-las,” disse “K”, que
como outros sírios não querem divulgar os nomes com receio de represálias.
Outro bem conhecido líder rebelde em Ghouta,
chamado “J” concordou, acrescentando que “os militants do Jabhat al-Nusra não
cooperam com os outros rebeldes no terreno, não partilham informação secreta,
apenas usam os demais rebeldes para transportar e operar o material”.
“Estávamos muito curiosos sobre essas armas e
infelizmente alguns dos combatentes manusearam-nas incorrectamente e provocaram
as explosões,” disse ainda ‘J’.
Médicos que trataram as vítimas do ataque
químico avisaram os jornalistas para serem cuidadosos nas questões sobre quem,
ao certo, caberia a responsabilidade pelo ataque mortífero.
O grupo humanitário Médicos sem Fronteiras
acrescentou que os socorristas que auxiliaram 3.600 doentes também se queixaram
de sintomas idênticos, incluindo espumar pela boca, convulsões e problemas
respiratórios e de visão, mas sem confirmação independente da
informação.
Mais de uma dúzia de rebeldes entrevistados
disseram que os seus salários são suportados pelo governo saudita.»
Confirmadas as fortes dúvidas sobre a pronta acusação formulada contra
Bashar al-Assad – tão fortes que após saber-se a «Síria
receptiva a proposta russa para a entrega de armas» químicas até já o
secretário de Estado John «Kerry
diz que Assad evitaria ataque se entregasse armas químicas» –, enquanto se
aguardam novos desenvolvimentos e porque o teor da notícia vai muito além da
mera questão a responsabilidade pelo uso de armas químicas, ligação saudita nele
referida será objecto do próximo “post”.
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