Ouvida a afirmação da ministra das Finanças de que o
peso da dívida pública no PIB é menor, não de 131%, como assegura o Banco
de Portugal, mas de apenas 118, duas questões deveriam ter sido suscitadas de
imediato.
Primeiro; ou os técnicos do Banco de Portugal erraram clamorosamente – e
se lembrarmos os reputadíssimos Reinhart e Rogoff (ver o “post” «ACONTECE…»,
ou nosso bem conhecido Vítor Gaspar, nem sequer seria inédito ou impensável –
ou quem está errada é a ministra. Duma forma ou de outra estamos a falar de
técnicos especialistas na matéria e dum simples algoritmo de cálculo que passa
por dividir o valor da dívida pelo PIB, informação estatística de divulgação
comum e normalmente aceite como fiável, pelo que uma diferença de 13 pontos
percentuais é impossível de aceitar.
Segundo; se a justificação para a divergência é a adiantada pela
ministra, quando afirmou que «A diferença é o dinheiro que temos, que é nosso e
que usaremos para fazer face aos nossos compromissos e isso reflectir-se-á
no rácio da dívida»,
então estaremos perante um caso grave de incompetência técnica (que talvez
justificasse uma reacção idêntica à que em tempos teve António Borges,
concluindo-se que a ministra não passaria no primeiro ano do seu curso de
economia) pois o que Maria Luís Albuquerque afirmou é que o saldo não utilizado
dos empréstimos não representa um encargo, como se o mesmo não estivesse
onerado pelos juros nem sujeito a reembolso (lembram-se o que disseram alguns
correlegionários da ministra quando Sócrates alvitrou que a dívida pública não
era para se pagar?).
Aqui voltamos ao registo de trapalhada, meias-verdades e mentiras a que
os membros do governo de Passos Coelho em geral, e esta senhora em especial, já
nos habituaram. Não tardará que, para justificar uma qualquer situação de
aumentos de impostos ou de reduções de benefícios sociais, a mesma senhora
venha dizer que a responsabilidade é do elevado peso da dívida (os tais 131%
que agora dá jeito afirmar categoricamente serem apenas 118%).
É verdade que há muito tempo que as declarações de quem nos governa
deveriam ter deixado de merecer espanto, mas não consigo permanecer em silêncio
perante tanta manipulação e mentira, especialmente quando aqueles que deveriam
ser responsáveis pela difusão da informação, e pela sua apreciação crítica,
optam por um silêncio cúmplice.
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