Bem tentou o chefe do Governo desvalorizar o processo de substituição de
meia dúzia de Secretários de Estado quando afirmou que «Mexidas
no Governo “não têm significado político particular”» e talvez até o
tivesse conseguido se os nomeados não reparos de maior. Porém, quando a lista
integra um antigo alto responsável pela gestão do grupo SLN (a “holding”
ex-proprietária do BPN), compreende-se perfeitamente as razões que levaram Marcelo Rebelo
de Sousa a afirmar que «Passos
não devia ter escolhido quem levanta o “fantasma do BPN”».
Comentário
perfeitamente entendível num período em que, internamente, ainda não foram
esquecidos o recurso a financiamentos públicos para o resgate de bancos como o BCP,
o BPI e o BANIF, a recente condenação do ex-homem forte do BCP, Jardim
Gonçalves, por crimes de manipulação de mercado e de falsificação de documentos
e o envolvimento do presidente do BES, Ricardo Salgado, num pouco claro
processo de perdão fiscal, quando externamente ganhou foros de destaque o
escândalo que envolve o banco italiano (por acaso o mais antigo do mundo em
actividade) Banca Monte dei Paschi di Siena, factos
que – a par doutros que ainda aguardam decisões judiciais, como sejam o do BPN,
personificado em Oliveira e Costa, e do BPP, dirigido por João Rendeiro, o
envolvimento em práticas de ética duvidosa de banqueiros como João Tomé
(BANIF), José Maria Ricciardi (BESI) e Amílcar Pires (BES) – e que levaram, há
dias, Nicolau Santos a questionar-se se «Os
nossos banqueiros são de confiança?».
A nomeação de
Franquelim Alves – um ex-administrador do grupo SLN que declarou perante a
comissão parlamentar de inquérito ao BPN que conhecia a situação daquele banco
– só pode se entendida como um anúncio de que o «Governo reabilita
SLN», tanto mais que, segundo o EXPRESSO,
o próprio Passos Coelho terá afirmado que «Franquelim
Alves é uma "boa escolha"».
A questão, de
tão grave que é, nem se prende tanto com a omissão ou não no seu currículo da
passagem pela SLN/BPN (facto que a confirmar-se revelará até a importância
subconsciente atribuída), mas principalmente pelo reacender duma polémica
perfeitamente evitável, quando o próprio «Ministro
da Economia elogia Franquelim Alves por ajudar a “desmascarar fraude do BPN”»
citando uma carta de denúncia deste ao Banco de Portugal que, segundo aquela
notícia do PUBLICO, foi afinal escrita dor
Abdul Vakil, o sucessor de Oliveira e Costa na administração do banco.
Tudo
considerado, não restará a menor dúvida que a nomeação tem um profundo sentido
político e que, a atestar pela afirmação do Primeiro-Ministro de que aquele
gestor “agiu sempre de forma correcta”,
este esperará dele o mesmo zelo no seio da equipa que dirige: um silêncio
cúmplice a tudo o que o rodeie!
Aliás,
cumplicidades é o que parece não faltar no seio daquele grupo, pois desde os
primeiros sinais de desentendimento entre os dois partidos que integram a
coligação que esse parece ser o único cimento que continua a segurá-lo… ou será
outro, que de tão negro até torna apetecível arrostar com mais este
Franquelimstein?
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