Nos últimos
tempos têm surgido regularmente notícias sobre ataques de grupos radicais
islâmicos contra técnicos de saúde envolvidos em processos de vacinação. A BBC noticiou no dia
10 que três médicos estrangeiros foram mortos no nordeste da Nigéria
(território onde tem estado activo o grupo Boko Haram, que defende a instalação
dum estado islâmico no norte do país e ao qual foram atribuídas mais de 600
assassinatos em 2012), dois dias após uma outra onde
refere a morte de 9 voluntárias, na mesma região, e duma terceira notícia
onde refere o sentimento de insegurança no Paquistão, país onde se terá
registado um balanço de 19 mortos de operacionais no combate à poliomielite
desde Julho passado.
O
recrudescimento da perseguição às equipas de vacinação coincide com notícias
que referem o adiamento da declaração da erradicação total da poliomielite que
deveria ter ocorrido no final de 2012, por permanecerem focos em três países –
Afeganistão, Paquistão e Nigéria – onde por coincidência, ou não, operam
movimentos radicais islâmicos.
Sem querer minorar
o empenho e a importância da acção da UNICEF, de ONG’s, como o Rotary International
ou a Fundação Gates e de muitos governos (países muçulmanos incluídos), sempre
recordo que aquelas reacções (disparatadas e inexplicáveis na acepção
ocidental) deverão ser inseridas numa perspectiva mais adequada e que,
infelizmente, as notícias não costuma incluir. É sabido que nas regiões em
causa impera um modo de organização social com profundas raízes tribais onde a
aquiescência dos anciãos é um passo indispensável para o sucesso de qualquer
tipo de interacção e dela dependem, de igual modo, os voluntários das ONG’s e
os radicais islâmicos; assim, é bem possível que o insucesso ocidental – e o
associado cortejo de mortes – se devam mais a uma inobservância destas regras
que a um qualquer sentimento anti-ocidental das populações, apesar de episódios
como o do uso pela CIA duma pretensa campanha de vacinação para cobertura duma
operação de localização de Bin Laden nada ajudar na construção dum clima de
confiança.
A gravidade dum eventual fracasso na
luta pela erradicação da poliomielite, uma doença altamente incapacitante cujo
retrocesso dos resultados actuais será uma possibilidade a ter sempre em conta
enquanto existirem núcleos a partir dos quais a propagação do vírus se possa reactivar,
é hoje comparável aos resultados do diálogo prometido pela iniciativa Aliança
das Civilizações, promovida pela ONU, que após um arranque mais ou menos
prometedor salda-se hoje por resultados ainda pouco consistentes, tanto mais
que o que continua a fazer manchetes na imprensa ocidental são os confrontos e
a desconfiança, não os diálogos.
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