sábado, 16 de fevereiro de 2013

A EUROPA CONGELADA


De forma mais ostensiva ou mais discreta, as notícias sobre a aprovação do orçamento da UE para 2014/2020 lá foram enchendo as páginas dos jornais e os noticiários televisivos e radiofónicos. Depois das cautelas como os líderes dos 27 se foram pronunciando antes da última reunião do Conselho Europeu e da ameaça do veto britânico, os chefes de governo europeus lá chegaram a um acordo sobre um documento da importância dum orçamento de médio prazo sem que tenha sido dado conhecimento público do mínimo debate sobre as principais linhas estratégicas que o terão norteado, facto que nos deve levar a crer que este não terá existido por as ideias e o seu debate estarem “congelados” ao serviço do monolitismo ideológico a que os seus interpretes devem obediência.


Enredados nas suas múltiplas contradições, chefes de governo e burocratas comunitários acabaram por apresentar um documento que preservará o essencial das suas convicções e das suas necessidades, mas em caso algum as dos cidadãos dos estados europeus. A confirmá-lo veja-se que num período de turbulência económica e de crescente incerteza geral, um orçamento que representa uns meros 1% do PIB europeu não poderá apresentar qualquer efeito contra cíclico significativo, facto que não parece ter preocupado os intervenientes, a ponto de termos ouvido que «Passos Coelho expressa satisfação com resultado final das negociações do Orçamento europeu» por termos perdido menos que os outros…

Dirigida sob um signo miserabilista a UE vai continuar a assistir ao avolumar da catástrofe económica e à submersão dum estado após outro aos interesses do capital financeiro global, sentimento que nem sequer a anunciada perspectiva de que o «Parlamento Europeu ameaça bloquear orçamento» mitiga, porque o problema não se limita ao orçamento mas á forma como se encontra estruturado todo o funcionamento do modelo comunitário, começando pelo excessivo privilégio do sector agrícola (razão para a ameaça do veto britânico e para o apoio francês a um orçamento que não promove o crescimento económico) e pela manutenção duma burocracia centralizadora, desproporcionada e forte consumidora de recursos, que em nada contribui para a resolução das actuais dificuldades.

Não se estranhe pois que da amálgama estrutural personificada num Conselho Europeu, onde campeiam as rivalidades nacionais com a insignificância duma presidência (Van Rompuy) de duvidosa utilidade, numa Comissão Europeia, eivada de comissários de nomeação sem suporte eleitoral nem peso político e presidida por um Durão Barroso sem carisma nem convicções, e num Parlamento Europeu que embora eleito nunca logrou assumir-se como o efectivo pólo de poder que deveria ser, nada resulte de particularmente eficaz na construção e na afirmação duma Europa capaz para enfrentar os desafios actuais e os que se perspectivam, correspondendo ao seu peso económico e não apenas ao do somatório dos seus principais estados. Ao contrário, emergem os pequenos líderes nacionais que, mais preocupados em contentar as suas clientelas políticas nacionais que em cuidar do interesse geral dos cidadãos europeus, proclamam aos quatro ventos as suas pequenas vitórias, invariavelmente obtidas a expensas dos vizinhos e parceiros, quando não recorrem às mais descaradas mentiras – como volta a acontecer em Portugal com a publicação dos últimos dados estatísticos pelo INE, revelando que a «Recuperação da economia em 2013 é cada vez mais improvável», prontamente desvalorizados quando o «PSD diz que dados mostram “ligeiríssimo desvio” e estão em linha com economia europeia», como se contrair mais que a média comunitária não constituísse mais um passo no agravamento do fosso que nos separa da EU – para esconderem a indisfarçável realidade que constitui a absoluta incapacidade derivada das abordagens dogmáticas (as únicas de que parecem capazes) a que insistem recorrer.

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