Mesmo sem a clara pretensão do igualar, apetece-me desabafar, como o fez Paul Krugman na sua última crónica no THE NEW YORK TIMES, dizendo que me sinto aterrado e saturado a propósito da crise global em geral e da crise do euro em especial. Aterrado, porque os decisores (políticos e económicos) continuam a adiar as medidas que deveriam estar a contrariar a tendência de proliferação e aprofundamento da crise, e saturado de repetir “post” após “post” que as parcas decisões e as prolíferas opiniões carecem do entendimento mínimo das reais razões da crise para se poderem constituir como contributos efectivos para uma solução.
Em anteriores ocasiões e a propósito doutras “crises” era comum usar-se a alegoria do cego que conduzia outros cegos, magistralmente retratada por Bruegel[1], mas que com acrescida propriedade deverá hoje ser substituída pela imagem do caricaturista grego Michael Kountouris:
onde nem os “cegos” dirigentes conseguem orientar-se uns aos outros.
Exemplo claro é a também recente crónica do Prof. César das Neves no DN – «As três lições da crise» – que, apontando a inevitabilidade dos ciclos recessivos parece mais um repositório de desculpas que de lições, constituindo assim fraco contributo para o debate das soluções.
Em contrapartida textos e autores que defendem princípios opostos aos que continuam a ser aplicados sem sucesso, permanecem esquecidos, ou mais propriamente ostracizados, da comunicação social nacional.
Por tudo isto, declarações tonitruantes dos grandes líderes que insistem em conduzir-nos a dar o último passo para o abismo, como as recentemente produzidas pelo presidente da Comissão Europeia a que o EXPRESSO deu eco dizendo que «Barroso diz que nenhum país abandona a moeda única», ou a que o PUBLICO difundiu, dizendo que «Se há uma potência emergente no mundo, “essa potência é a Europa”» apenas poderão gerar acréscimo de desconfiança ou um claro sentimento de revolta e repúdio, única reacção possível a absurdos como a divulgada pelo DN de que «Merkel sugere perda de soberania para incumpridores», encontram-se nos antípodas de qualquer proposta inovadora ou com aparência de hipóteses de sucesso e tudo isto quando decorre aquela que é apontada por muitos como a semana decisiva para o Euro e a UE.
[1] Pieter Bruegel, o Velho, primeiro pintor flamengo duma vasta família de homónimos que se distinguiram nos séculos XVI e XVII.
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