Entre as bombásticas notícias que anteciparam a apresentação do plano estratégico do governo de Passos Coelho para o próximo triénio – antevendo como escreveu o ECONÓMICO que o «Governo apresenta hoje “corte histórico” na despesa» e «Governo anuncia hoje "cortes históricos" de mil milhões», o PUBLICO em « Governo quer suprimir mais funcionários públicos do que obriga acordo com a troika» ou o JN em «Miguel Relvas admite redução de vereadores e limite de dirigentes superiores» – parecia generalizado o presságio da repetição da tradicional e mais fácil solução de reduzir encargos com pessoal.
Aparentemente nada de substancialmente novo ressalta de tudo isto e quando tal aparenta, como sucede com o anúncio feito pelo I de que o «Governo quer câmaras geridas por um só partido», resulta em motivo de acrescida preocupação pelo que pode encerrar de menor transparência e de aumento do nepotismo e da corrupção.
Esta ideia, há muito praticada em autarquias onde os presidentes eleitos se têm recusado a distribuir pelouros aos vereadores eleitos noutras listas, podendo parecer potenciadora de maior coesão funcional acaba quase inevitavelmente por resultar no aumento da prepotência, em claro prejuízo da transparência, da qualidade do exercício do poder autárquico e favorecendo o tão falado distanciamento entre eleitos e eleitores.
A questão é particularmente grave quando a situação do país se apresenta da forma que conhecemos – as fases mais delicadas de qualquer regime político, e dos democráticos em especial, coincidem inevitavelmente com os períodos de maiores dificuldades económicas – e pior ainda, quando nos chegam notícias como a de que «Bruxelas confirma buraco de 500 M€ na Madeira», dando uma clara imagem do que de pior se pode esperar dum poder descontrolado, para mais quando parece beneficiar dum claro compadrio do governo central que pela voz do primeiro-ministro fez saber (segundo notícia do ECONÓMICO) que aquele valor já era conhecido e estará incluído no famigerado desvio colossal dos 2 mil milhões de euros.
A antigo aforismo de que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente” ganhará, a confirmar-se a aplicação deste novo “modelo” de governação autárquica, se não um novo significado pelo menos uma indesejada mas clara confirmação das “negociatas” pseudo-políticas que têm contribuído (e de que maneira...) para a situação do país da qual a situação financeira da Madeira é um exemplo.
Não que este seja o único organismo local a viver uma situação de ruptura financeira, pois como se assegura nesta notícia são já «Mais de vinte autarquias em risco de falência», mas pelo montante e pelo peso político próprios dum governo regional o problema tem forçosamente de ganhar novos e mais dramáticos contornos bem expressos na afirmação do ministro das finanças de que «Situação da Madeira é de crise insustentável».
Estranho é que não se tratando duma situação nova, os meios de comunicação social dêem eco a declarações de Alerto João Jardim do jaez da que assegura que «”Maçonaria usou tudo o que podia” para atacar a Madeira» e nas quais aquela inefável figura mistura tudo o que encontra à mão, desde o anterior governo socialista à Maçonaria e passando pelo controlo que a Internacional Socialista exerce sobre a União Europeia (não sei se Alberto João Jardim esquece, ou simplesmente ignora, que a UE é dirigida pela família política na qual se integra o seu PSD), para esconder as mais condenáveis práticas nepotistas e autocráticas que grassam por região autónoma.
Bem pode agora escrever o NEGÓCIOS que «Vítor Gaspar quer plano de ajustamento ‘à FMI’ para a Madeira» porque nada irá mudar! A prova é que já antes o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho quando afirmou que «"Assim que esse desvio foi detectado, foi colmatado"» deixou clara a intenção de mais uma vez branquear a irresponsabilidade e a incompetência daqueles que há quase 40 anos têm governado de forma absolutista os destinos daquela região autónoma... e deste país.
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