O prometido aconteceu e a Autoridade Palestiniana apresentou na Assembleia Geral da ONU um pedido formal de adesão na qualidade de estado de direito e, como esperado, os EUA exercerão o seu direito de veto, condenando a pretensão palestiniana.
Na sua intervenção naquela assembleia, Obama reconheceu as razões para a insatisfação palestiniana, mas não revelou qualquer hesitação no apoio ancestral e firme à política e à estratégia israelita no longo diferendo que opõe aqueles dois povos e foi sem pejo que anunciou a recusa do seu apoio à pretensão palestiniana.
Antes dele, a presidente brasileira, Dilma Roussef, manifestou opinião oposta e assegurou o seu apoio à ideia de plena representação da Palestina nas Nações Unidas, defendendo mesmo que só um país livre e soberano é que poderá responder aos desejos israelitas em matéria de paz e segurança. Estas duas posições espelham bem as razões para o arrastar dum processo de paz com mais de seis décadas e que após avanços e recuos se mostra demasiado longe dum acordo final.
Judeus e palestinianos tardam em encontrar o entendimento em matérias particularmente sensíveis como a partilha de território e o direito de retorno dos refugiados palestinianos em resultado das diversas guerras israelo-árabes. Nem mesmo depois de alcançada uma certa forma de paz e de entendimento entre Israel e os vizinhos Egipto e Jordânia foi possível adiantar, pouco que fosse, o processo de retorno das populações expulsas ou que simplesmente optaram pela fuga face ao avanço do exército israelita.
É óbvio que esta não é a única matéria em desacordo, pois questões não menos importantes como a partilha de Jerusalém e a permanente construção de novos colonatos judaicos nos territórios ocupados (algo claramente ilegal face ao direito internacional que veda expressamente a forças ocupantes a instalação definitiva em território ocupado, mas que não impediu que na última década o número de colonos tenha triplicado) têm-se revelado suficientes para o prolongamento indefinido dum processo negocial que, refira-se, tem sido “apadrinhado” pelos EUA e pela UE entidades que apenas remotamente podem ser apelidadas de imparciais e que actualmente se situam num claro “tudo pela Palestina, nada contra Israel”, para retomar aqui o título que a agência LUSA usou para apresentar as hesitações e os pruridos com que os diplomatas europeus (Portugal incluído) e americanos têm procurado adiar a necessidade duma resolução que não querem que contrarie Tel Aviv.
Estribada na sua posição de força ocupante e apoiado pelos “mediadores” não é de estranhar que Israel se comporte como negociador arrogante, sempre pronto a impor exigências e raramente disposta a qualquer concessão, tanto mais que ao longo da crise sempre tem beneficiado do apoio expresso dos EUA, inclusive na sua política de rejeição das decisões da ONU que entende desfavoráveis. Essa quase obscena ligação Israel-EUA remonta à data em que Ben-Gurion, primeiro-ministro de Israel, declarou unilateralmente a independência do estado judaico, acção que foi prontamente reconhecida por Harry Truman, então presidente norte-americano e conhece hoje apenas o seu episódio mais recente, com o veto de Obama a idêntica pretensão palestiniana.
A proposta de reconhecimento pela Autoridade Palestiniana – que nem entre uma população palestiniana que permanece dividida entre a Cisjordânia dirigida pela OLP e a Faixa de Gaza dirigida pelo Hamas mereceu um consenso claro – pode sempre ser explicada, como o fez o próprio Mahmoud Abbas num discurso televisivo[1], como uma tentativa de internacionalização do conflito israelo-palestiniano que após mais de duas décadas de conversações de paz bilaterais não obteve sucesso na construção da solução dois povos-dois estados; o que não pode é, como fez a administração Obama, ser prontamente rotulada como inadmissível e apodada dum atalho para o processo de paz, como se à parte palestiniana apenas restasse o submisso papel de agradecer as migalhas que americanos e israelitas entendam acordar-lhe.
Enquanto, à face do direito internacional e ao abrigo de inúmeras resoluções da ONU, Israel se comportar como potência ocupante e perdurar o apoio europeu e norte-americano dificilmente restará aos palestinianos uma alternativa negocial válida e iniciativas como a agora apresentada acabarão por representar pouco mais que meras manobras de pressão internacional ou de âmbito interno, caso em que a OLP e Mahmoud Abbas poderão retirar alguns dividendos na sua disputa com o Hamas.
[1] A referência àquele discurso pode ser lida num artigo de opinião de Rami Almeghari, na página ELECTONIC INTIFADA.
Sem comentários:
Enviar um comentário