A recente aprovação em Israel de
legislação que reserva o
direito à autodeterminação exclusivamente para os judeus e que estabelece o hebraico como única língua oficial,
cria na prática um regime equiparado ao do famigerado apartheid sul-africano.
Até se pode dizer que isto não
tem nada de novo, pois há muito que as autoridades judaicas agiam segundo as
regras e princípios do sistema de apartheid; a novidade é que depois daquela
aprovação tudo passou a ser mais claro e... mais difícil de negar.
Com uma curta diferença de 7
votos (62 a favor e 55 contra) o «Parlamento
de Israel aprova lei que define o país como Estado exclusivamente judaico»,
passando a forma de lei básica (Israel, na senda da tradição anglo-saxónica,
não tem constituição formal) a
prática quotidiana de discriminação das minorias não judias (quase 20% da sua
população é de origem árabe) que há muito executa e num claro favorecimento das
teses dos grupos sionistas mais radicais.
Depois da deplorável decisão
norte-americana de mudar a sua embaixada para Jerusalém (ver o post «O MURO
DE TRUMP»), contrariando o sentimento da comunidade internacional e a
própria resolução da ONU que fixou a Jerusalém um estatuto especial, e do crescimento
das tendências nacionalistas de grande pendor radical, esta é apenas mais uma
acha para a fogueira onde ardem, em fogo cada vez menos brando, aqueles valores
fundamentais que fizeram alguma diferença a ponto de impossibilitar hoje qualquer
contestação à afirmação de que Israel não pode continuar a apresentar-se como
uma democracia!
Para quem ainda se interrogue de como aqui chegámos, sempre
recordo que além do inequívoco beneplácito americano (para o qual muito tem
contribuído o poderoso lobby judaico), Benjamin Netanyahu, conta ainda com:
1. a
simpatia russa, visível na permissividade com que tem aceite as incursões
aéreas israelitas na Síria contra alvos iranianos;
2. o silêncio árabe, fruto das tensões e divisões
entre sunitas e xiitas, que assegura um apoio dos Estados sunitas do Médio
Oriente,como a Arábia Saudita que vê em Israel um útil contrapeso na sua
disputa com o Irão;
3. o
peso dos interesses económicos com a China (particularmente interessada na
tecnologia avançada israelita) e o conhecido relacionamento económico e militar
com a Índia;
para lhe assegurar um contexto
interno e externo propício a uma realpolitik que banaliza mais este episódio
do já longo, trágico e cada vez mais insolúvel conflito israelo-palestiniano.
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