segunda-feira, 23 de julho de 2018

APARTHEID 2.0


A recente aprovação em Israel de legislação que reserva o direito à autodeterminação exclusivamente para os judeus e que estabelece o hebraico como única língua oficial, cria na prática um regime equiparado ao do famigerado apartheid sul-africano.


Até se pode dizer que isto não tem nada de novo, pois há muito que as autoridades judaicas agiam segundo as regras e princípios do sistema de apartheid; a novidade é que depois daquela aprovação tudo passou a ser mais claro e... mais difícil de negar.

Com uma curta diferença de 7 votos (62 a favor e 55 contra) o «Parlamento de Israel aprova lei que define o país como Estado exclusivamente judaico», passando a forma de lei básica (Israel, na senda da tradição anglo-saxónica, não tem constituição formal) a prática quotidiana de discriminação das minorias não judias (quase 20% da sua população é de origem árabe) que há muito executa e num claro favorecimento das teses dos grupos sionistas mais radicais.

Depois da deplorável decisão norte-americana de mudar a sua embaixada para Jerusalém (ver o post «O MURO DE TRUMP»), contrariando o sentimento da comunidade internacional e a própria resolução da ONU que fixou a Jerusalém um estatuto especial, e do crescimento das tendências nacionalistas de grande pendor radical, esta é apenas mais uma acha para a fogueira onde ardem, em fogo cada vez menos brando, aqueles valores fundamentais que fizeram alguma diferença a ponto de impossibilitar hoje qualquer contestação à afirmação de que Israel não pode continuar a apresentar-se como uma democracia!

Para quem ainda se interrogue de como aqui chegámos, sempre recordo que além do inequívoco beneplácito americano (para o qual muito tem contribuído o poderoso lobby judaico), Benjamin Netanyahu, conta ainda com:

1.    a simpatia russa, visível na permissividade com que tem aceite as incursões aéreas israelitas na Síria contra alvos iranianos;
2.     o silêncio árabe, fruto das tensões e divisões entre sunitas e xiitas, que assegura um apoio dos Estados sunitas do Médio Oriente,como a Arábia Saudita que vê em Israel um útil contrapeso na sua disputa com o Irão;
3.   o peso dos interesses económicos com a China (particularmente interessada na tecnologia avançada israelita) e o conhecido relacionamento económico e militar com a Índia;

para lhe assegurar um contexto interno e externo propício a uma realpolitik que banaliza mais este episódio do já longo, trágico e cada vez mais insolúvel conflito israelo-palestiniano.

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