Ainda se
poderá estranhar, quando na actual conjuntura internacional o seu actor principal
parece sinceramente apostado numa estratégia de pura destruição, que Donald
Trump tenha (segundo uma manchete da CNN) aberto
a cimeira da NATO com críticas alucinantes à Alemanha e rotulado os aliados de 'delinquentes'?
Continuando a
usar e abusar das suas conhecidas capacidades histriónicas a par com técnicas
de vendedor ambulante (daqueles que saltitam entre a adulação e a intimidação)
e de apresentador televisivo de “reality shows”, contando que ninguém na sala o
enfrente directamente, Trump foi disparando em todas as direcções quando atacou Merkel e defendeu gasto de 4% na defesa para
países da NATO. Acusou a Alemanha de dependência energética da
Rússia por preferir o gás natural, recebido através do gasoduto Nord Stream II,
em detrimento do petróleo norte-americano que obriga a enormes investimentos em
novas plataformas de acostagem e descarga e pretendeu que os membros da NATO gastem em Defesa o dobro daquilo que
ainda não gastam.
Embora a generalidade dos seus
interlocutores continue a privilegiar as tradicionais respostas (também
chamadas de diplomáticas), como as de António Costa, que não comenta ameaças de Trump e lembra que Aliança
"não nasceu ontem" ou para quem "não há nada a ganhar" confrontando Trump,
enquanto Donald Tusk, o
presidente do Conselho Europeu, sempre foi recordando que deveria estimar os seus aliados, porque já não tem muitos...
Esta estratégia de constante assédio que
a administração norte-americana tem utilizado em quase todos os processos
negociais, revela-se, no caso concreto da NATO, como algo absurda, ou para usar
a expressão de um ex-candidato presidencial, o também republicano John McCain: a prestação diplomática do Presidente na NATO foi
“desoladora” mas “não uma surpresa”. Claro
que a pressão para os aliados aumentarem as suas contribuições para a NATO resultam
das crescentes limitações orçamentais e financeiras dos EUA, mas também não
deve ser esquecido o peso do complexo militar-industrial norte-americano (na
dupla vertente de ser actualmente uma das únicas actividades ainda “maid in USA”
e na de grande financiador das caríssimas campanhas eleitorais norte-americanas);
não será por isso inocentemente que Trump quer europeus a gastar mais para comprarem
armas aos EUA?
Na habitual
estratégia de “muita parra e pouca uva”, Trump ameaçou tirar EUA da NATO para forçar aliados
a pagar mais, mas a cimeira acabou como tinha começado, ou seja
com a Europa a dizer que irá aproximar as suas contribuições dos 2% do PIB até
2024, conforme já tinha sido anteriormente acordado, e Donald Trump a anunciar ao
seu eleitorado mais uma vitória
O que parece
que ninguém disse a Donald Trump foi que a existência duma NATO que, desde o
fim da guerra fria enfrenta a inexistência de um poderoso inimigo comum que lhe
dê solidez estratégica, é cada vez mais uma consequência dos exclusivos
interesses dos EUA e que o seu financiamento deverá respeitar essa mesma
realidade. A Europa, que há muito deveria estar a privilegiar a construção do
seu próprio exército comum e uma verdadeira indústria militar europeia, se
tiver que aumentar o seu contributo financeiro para a NATO só o deverá fazer
quando for ela a decidir o plano estratégico duma organização que desde o fim
da guerra fria apenas tem servido os superiores interesses anglo-americanos.
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