sexta-feira, 13 de julho de 2018

TRUMP E A NATO


Ainda se poderá estranhar, quando na actual conjuntura internacional o seu actor principal parece sinceramente apostado numa estratégia de pura destruição, que Donald Trump tenha (segundo uma manchete da CNN) aberto a cimeira da NATO com críticas alucinantes à Alemanha e rotulado os aliados de 'delinquentes'?


Continuando a usar e abusar das suas conhecidas capacidades histriónicas a par com técnicas de vendedor ambulante (daqueles que saltitam entre a adulação e a intimidação) e de apresentador televisivo de “reality shows”, contando que ninguém na sala o enfrente directamente, Trump foi disparando em todas as direcções quando atacou Merkel e defendeu gasto de 4% na defesa para países da NATO. Acusou a Alemanha de dependência energética da Rússia por preferir o gás natural, recebido através do gasoduto Nord Stream II, em detrimento do petróleo norte-americano que obriga a enormes investimentos em novas plataformas de acostagem e descarga e pretendeu que os membros da NATO gastem em Defesa o dobro daquilo que ainda não gastam.

Embora a generalidade dos seus interlocutores continue a privilegiar as tradicionais respostas (também chamadas de diplomáticas), como as de António Costa, que não comenta ameaças de Trump e lembra que Aliança "não nasceu ontem" ou para quem "não há nada a ganhar" confrontando Trump, enquanto Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, sempre foi recordando que deveria estimar os seus aliados, porque já não tem muitos...

Esta estratégia de constante assédio que a administração norte-americana tem utilizado em quase todos os processos negociais, revela-se, no caso concreto da NATO, como algo absurda, ou para usar a expressão de um ex-candidato presidencial, o também republicano John McCain: a prestação diplomática do Presidente na NATO foi “desoladora” mas “não uma surpresa”. Claro que a pressão para os aliados aumentarem as suas contribuições para a NATO resultam das crescentes limitações orçamentais e financeiras dos EUA, mas também não deve ser esquecido o peso do complexo militar-industrial norte-americano (na dupla vertente de ser actualmente uma das únicas actividades ainda “maid in USA” e na de grande financiador das caríssimas campanhas eleitorais norte-americanas); não será por isso inocentemente que Trump quer europeus a gastar mais para comprarem armas aos EUA?

Na habitual estratégia de “muita parra e pouca uva”, Trump ameaçou tirar EUA da NATO para forçar aliados a pagar mais, mas a cimeira acabou como tinha começado, ou seja com a Europa a dizer que irá aproximar as suas contribuições dos 2% do PIB até 2024, conforme já tinha sido anteriormente acordado, e Donald Trump a anunciar ao seu eleitorado mais uma vitória 

O que parece que ninguém disse a Donald Trump foi que a existência duma NATO que, desde o fim da guerra fria enfrenta a inexistência de um poderoso inimigo comum que lhe dê solidez estratégica, é cada vez mais uma consequência dos exclusivos interesses dos EUA e que o seu financiamento deverá respeitar essa mesma realidade. A Europa, que há muito deveria estar a privilegiar a construção do seu próprio exército comum e uma verdadeira indústria militar europeia, se tiver que aumentar o seu contributo financeiro para a NATO só o deverá fazer quando for ela a decidir o plano estratégico duma organização que desde o fim da guerra fria apenas tem servido os superiores interesses anglo-americanos.

Sem comentários: