A melhoria no
nível de qualificações académicas das gerações mais novas não tem sido
acompanhada pela da qualidade da gestão da vasta maioria das empresas, mesmo
das grande multinacionais. Este problema, que há umas décadas poderia ser
atribuído à diferença de formação entre os mais novos e os mais velhos, e à
ideia que estes bloqueariam a ascensão dos primeiros aos lugares mais elevados
da hierarquia empresarial, subsiste mesmo em casos em que os lugares de topo
são já ocupados pelos jovens promissores de elevado potencial de há uns anos...
É há muito
conhecida a teoria, que ficou conhecida como o Princípio de Peter, de que numa hierarquia
todo e qualquer membro tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência.
Esta ideia continua actualmente a ser evidente aos mais variados níveis
hierárquicos, quer na esfera pública quer na privada, e a ela se junta o
Paradoxo da Estupidez enunciado por Mats
Alvesson (professor de Gestão de Empresas na Universidade de Lund,
Suécia) e André Spicer (professor de Comportamento Organizacional na Cass
Business School da Universidade de Londres), no livro homónimo “The Stupidity
Paradox”, que observou dezenas de empresas e centenas de jovens trabalhadores
inteligentes e com elevados níveis de educação, para concluir que os jovens são
normalmente condicionados a deixarem de pensar (desligar o cérebro) e
absorvidos em tarefas particularmente entediantes.
Basicamente as
empresas procuram recrutar pessoas suficientemente inteligentes para fazer prosperar
o negócio e manter a imagem de dinâmica modernidade, mas não o suficiente para
desafiá-lo. E não foi sempre assim?
Já nos anos 80
do século passado, quando ainda era comum ouvir-se o fatal – “sempre se fez
assim” – a qualquer questão que envolvesse métodos de trabalho ou quando se falava
muito dos yuppies – derivado da sigla
"YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban
Professional" (Jovem Profissional
Urbano), é usado para
caracterizar jovens profissionais com elevada remuneração, com formação
universitária e ocupação na área dos negócios; mais conservadores e
materialistas que a geração anterior, os hippies, cujas causas sociais abandonaram
e tendem a ser antes de mais profissionais competitivos – que eram então tidos
como o modelo a seguir mas cuja aura começou a desvanecer-se com o crash de 1987 e o que ele revelou sobre
o modelo de negócio envolvido.
O problema é que
as grandes empresas hoje estão tão particularmente condicionadas pela
burocracia que só procuram pessoas capazes de perpetuar essa herança, vivendo o
climax do paradoxo da estupidez: se nada o incomodar (o paradigma do tipo que
não faz ondas) será considerado um bom líder. Mas este sistema de domesticação
só funciona através da aceitação dos próprios, o que terá conduzido à aplicação
dum modelo dual de solução: dinheiro e infantilização.
A burocratização do pensamento, ou seja, o
processo que paulatinamente tem levado à atrofia da crítica interna nas
organizações através duma metódica criação de meros clones (mas duma geração
muito superior à clássica ovelha Dolly, pois são diferentes por fora mas
perfeitamente iguais por dentro), conduziu ao aparecimento de burocratas
disfarçados de líderes, infalivelmente rodeados de yes-men (aquela melíflua carneirada que faz coro na concordância
com o chefe mas absolutamente incapaz de formalizar uma ideia ou uma dúvida), cada vez mais alheados da realidade.
Podemos ainda falar
sobre as consequências dos trabalhos de trampa (bullshit jobs) que não só cada
vez mais inúteis como estão totalmente desligados dos valores aprendidos
durante a formação, que normalmente ensinam a ter sempre ideias, ou no facto de
cada vez mais jovens procurarem o ensino superior enquanto cada vez menos
empregos o exigem, o que só aumenta a frustração e a desmotivação daqueles que
se sentem subutilizados, mas que se vêem obrigados a aceitar essa situação.
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