quinta-feira, 26 de julho de 2018

GESTÃO E TRABALHO


A melhoria no nível de qualificações académicas das gerações mais novas não tem sido acompanhada pela da qualidade da gestão da vasta maioria das empresas, mesmo das grande multinacionais. Este problema, que há umas décadas poderia ser atribuído à diferença de formação entre os mais novos e os mais velhos, e à ideia que estes bloqueariam a ascensão dos primeiros aos lugares mais elevados da hierarquia empresarial, subsiste mesmo em casos em que os lugares de topo são já ocupados pelos jovens promissores de elevado potencial de há uns anos...


É há muito conhecida a teoria, que ficou conhecida como o Princípio de Peter, de que numa hierarquia todo e qualquer membro tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência. Esta ideia continua actualmente a ser evidente aos mais variados níveis hierárquicos, quer na esfera pública quer na privada, e a ela se junta o Paradoxo da Estupidez enunciado por Mats Alvesson (professor de Gestão de Empresas na Universidade de Lund, Suécia) e André Spicer (professor de Comportamento Organizacional na Cass Business School da Universidade de Londres), no livro homónimo “The Stupidity Paradox”, que observou dezenas de empresas e centenas de jovens trabalhadores inteligentes e com elevados níveis de educação, para concluir que os jovens são normalmente condicionados a deixarem de pensar (desligar o cérebro) e absorvidos em tarefas particularmente entediantes.

Basicamente as empresas procuram recrutar pessoas suficientemente inteligentes para fazer prosperar o negócio e manter a imagem de dinâmica modernidade, mas não o suficiente para desafiá-lo. E não foi sempre assim?

Já nos anos 80 do século passado, quando ainda era comum ouvir-se o fatal – “sempre se fez assim” – a qualquer questão que envolvesse métodos de trabalho ou quando se falava muito dos yuppies – derivado da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Professional" (Jovem Profissional Urbano), é usado para caracterizar jovens profissionais com elevada remuneração, com formação universitária e ocupação na área dos negócios; mais conservadores e materialistas que a geração anterior, os hippies, cujas causas sociais abandonaram e tendem a ser antes de mais profissionais competitivos – que eram então tidos como o modelo a seguir mas cuja aura começou a desvanecer-se com o crash de 1987 e o que ele revelou sobre o modelo de negócio envolvido.

O problema é que as grandes empresas hoje estão tão particularmente condicionadas pela burocracia que só procuram pessoas capazes de perpetuar essa herança, vivendo o climax do paradoxo da estupidez: se nada o incomodar (o paradigma do tipo que não faz ondas) será considerado um bom líder. Mas este sistema de domesticação só funciona através da aceitação dos próprios, o que terá conduzido à aplicação dum modelo dual de solução: dinheiro e infantilização.

A burocratização do pensamento, ou seja, o processo que paulatinamente tem levado à atrofia da crítica interna nas organizações através duma metódica criação de meros clones (mas duma geração muito superior à clássica ovelha Dolly, pois são diferentes por fora mas perfeitamente iguais por dentro), conduziu ao aparecimento de burocratas disfarçados de líderes, infalivelmente rodeados de yes-men (aquela melíflua carneirada que faz coro na concordância com o chefe mas absolutamente incapaz de formalizar uma ideia ou uma dúvida), cada vez mais alheados da realidade.

Podemos ainda falar sobre as consequências dos trabalhos de trampa (bullshit jobs) que não só cada vez mais inúteis como estão totalmente desligados dos valores aprendidos durante a formação, que normalmente ensinam a ter sempre ideias, ou no facto de cada vez mais jovens procurarem o ensino superior enquanto cada vez menos empregos o exigem, o que só aumenta a frustração e a desmotivação daqueles que se sentem subutilizados, mas que se vêem obrigados a aceitar essa situação.

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