Domingo vamos
a votos!
Mas o
significado da expressão varia consoante a ponta da península ibérica; em
Portugal serão simples eleições autárquicas que levarão à escolha daqueles que
irão dirigir os concelhos e as freguesias de norte a sul do país, mas na
Catalunha o que está em jogo é muito mais que isso.
Fazendo eco
duma ancestral aspiração (lembrem-se que no século XVII, quando lográmos
recuperar a independência de Espanha, também a Catalunha lutou pelo mesmo
direito e o seu malogro talvez tenha sido determinante para o desfecho que nos
foi favorável) tem crescido um sentimento independentista entre os catalães,
talvez alimentado por idênticos movimentos na Escócia (ver a propósito o post «ARA ES L’HORA»)
e depois do desmembramento doutros estados por essa europa de leste.
Apoie-se ou não
a aspiração catalã, o que parece ressaltar do braço de ferro entre Barcelona e
Madrid é uma clara incapacidade para o diálogo e uma gestão política duma crise
que remonta à própria formação de Espanha, conseguida fundamentalmente devido à
superioridade militar de Castela (reino que remonta ao primeiro milénio e de
dimensão ainda hoje discutida), conduzida de forma canhestra que mais não tem
feito que incendiar os sentimentos independentistas.
Muito
diferente de não concordar com um referendo sobre a independência é optar pela
sua proibição (por maior que seja a sua sustentação legal) como o fez o governo
de Mariano Rajoy e criando todas as condições para o eclodir de confrontos
físicos. Mesmo que apoiado pela generalidade do establishment madrileno (raras são as vozes que não se erguem
contra a hipótese do poder perder cerca de 1/5 da riqueza nacional), dificilmente
mais esta atitude discricionária poderá contribuir para apaziguar um diferendo
tão antigo e com semelhante fundamentação histórica e nem o facto de vivermos
tempos de extrema hipocrisia – basta recordar a reacção da chamada “comunidade
internacional” a questões como o separatismo escocês e catalão, o controverso
apoio ao desmembramento de estados como a Checoslováquia e a Jugoslávia ou até
ao reconhecimento do Kosovo – pode justificar o simples apoio ou a condenação
de castelhanos e catalães.
Talvez,
afinal, o voto proibido acabe por ser o mais apetecido...
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